A cena política em Vitória da Conquista reflete, em escala municipal, os dilemas e contradições que assolam a esquerda brasileira. O recente pleito eleitoral, marcado pela vitória expressiva de Ana Sheila Lemos Andrade (União Brasil) sobre Waldenor Alves Pereira Filho (PT), expõe as fraturas de um projeto político que parece ter perdido o compasso com as aspirações populares.
A esquerda local enfrenta um paradoxo existencial: como ser a voz da renovação quando seus próprios quadros personificam a perpetuação no poder? A presença de vereadores em seu sexto mandato na Câmara Municipal é sintomática de uma estrutura política calcificada, incapaz de oxigenar-se com novas ideias e lideranças. Este envelhecimento político não é apenas uma questão de idade cronológica, mas de esgotamento de um modelo de fazer política que já não ressoa com o eleitorado.
O desempenho pífio de Waldenor Alves nas urnas – 52.947 votos contra 116.488 de Ana Sheila – é mais do que uma derrota eleitoral; é um atestado de desconexão com a realidade local. Atribuir este resultado apenas às “obras de última hora” da gestão atual é simplificar uma equação complexa. É inegável que o pragmatismo de entregar melhorias visíveis e tangíveis à população surtiu efeito, mas reduzir a vitória a isso é subestimar a inteligência do eleitor conquistense.
A esquerda local parece ter se perdido em um labirinto de autoengano. O Programa de Governo Participativo (PGP), embora louvável em sua concepção, falhou em traduzir escuta em ação efetiva. Como bem observado, “a cidade cansou de ser ouvida, ela queria que alguém fizesse”. Esta constatação deveria ser um alerta para uma revisão profunda de estratégias e práticas políticas.
Agora, diante da incerteza jurídica que paira sobre o mandato de Ana Sheila, com a questão de sua inelegibilidade ainda sub judice no TSE, a oposição se agarra a uma tênue esperança de reverter nas cortes o que não conseguiu nas urnas. Esta postura, contudo, é perigosa e potencialmente autodestrutiva.
A ideia de uma “mesa mista” neste contexto é, de fato, um combustível perigoso. Em um momento que clama por estabilidade e ação efetiva, alimentar incertezas políticas serve apenas para aprofundar as divisões e paralisar o progresso da cidade. Mais ainda, expõe a fragilidade de uma oposição que, incapaz de se reinventar, busca atalhos jurídicos para o poder.
Para Waldenor Alves, em particular, o momento pede reflexão e, possivelmente, recuo estratégico. Arriscar-se em um novo pleito, caso ocorra, poderia não apenas solidificar uma derrota já expressiva, mas encerrar prematuramente uma carreira política. A sabedoria, neste caso, pode estar em reconhecer os limites e abrir espaço para novas lideranças emergirem.
A lição que se desenha para a esquerda em Vitória da Conquista é clara: é preciso mais do que ouvir; é necessário agir. É imperativo renovar não apenas os rostos, mas as práticas e as ideias. O eleitorado demonstrou de forma inequívoca seu desejo por uma política que vá além do discurso, que se materialize em melhorias concretas no cotidiano da cidade.
Para avançar, a esquerda local precisa fazer uma autocrítica corajosa. Reconhecer que a longevidade no poder não é sinônimo de eficácia política. Entender que a verdadeira conexão com o povo se faz não apenas na escuta, mas na resposta ágil e efetiva às demandas populares.
O futuro político de Vitória da Conquista não será decidido em gabinetes judiciais, mas nas ruas, nas praças, nos bairros. É lá que a verdadeira renovação política deve começar. Uma renovação que não tema desafiar os próprios dogmas e que esteja disposta a aprender com os erros do passado para construir um projeto político verdadeiramente sintonizado com os anseios da população.
A mensagem das urnas foi clara. Cabe agora aos atores políticos, especialmente à esquerda, demonstrar se têm a humildade para ouvir e a coragem para mudar. O destino de Vitória da Conquista depende disso.
Padre Carlos