{"id":14643,"date":"2025-01-25T08:53:19","date_gmt":"2025-01-25T11:53:19","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=14643"},"modified":"2025-01-25T08:53:19","modified_gmt":"2025-01-25T11:53:19","slug":"daniel-almeida-e-a-encruzilhada-da-esquerda-entre-a-historia-e-o-futuro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/daniel-almeida-e-a-encruzilhada-da-esquerda-entre-a-historia-e-o-futuro\/","title":{"rendered":"Daniel Almeida e a Encruzilhada da Esquerda: Entre a Hist\u00f3ria e o Futuro"},"content":{"rendered":"
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A not\u00edcia de que Daniel Almeida, deputado federal com seis mandatos consecutivos, buscar\u00e1 a reelei\u00e7\u00e3o em 2026 exp\u00f5e uma contradi\u00e7\u00e3o que define a esquerda brasileira neste s\u00e9culo: a necessidade de preservar conquistas hist\u00f3ricas e, ao mesmo tempo, renovar-se em um cen\u00e1rio pol\u00edtico cada vez mais hostil. O al\u00edvio de parte da milit\u00e2ncia diante da confirma\u00e7\u00e3o de sua candidatura \u00e9 compreens\u00edvel, mas n\u00e3o esconde a dimens\u00e3o do problema. A esquerda, que um dia foi s\u00edmbolo de rebeldia e vanguarda, hoje enfrenta uma crise de reprodu\u00e7\u00e3o de quadros. E Almeida, ainda que indispens\u00e1vel, \u00e9 um espelho desse impasse.<\/p>\n
Daniel Almeida n\u00e3o \u00e9 um pol\u00edtico qualquer. Sua trajet\u00f3ria \u00e9 tecida com fios raros na pol\u00edtica contempor\u00e2nea: coer\u00eancia ideol\u00f3gica, liga\u00e7\u00e3o org\u00e2nica com movimentos populares e uma resist\u00eancia incomum aos ventos do pragmatismo. Ele pr\u00f3prio reconhece, em entrevista \u00e0 r\u00e1dio A Tarde FM, que sua perman\u00eancia na C\u00e2mara \u00e9 menos uma escolha pessoal e mais uma imposi\u00e7\u00e3o das circunst\u00e2ncias: \u201cA minha m\u00e9dia nas \u00faltimas quatro elei\u00e7\u00f5es \u00e9 de 120 mil votos. N\u00e3o podemos abrir m\u00e3o disso\u201d.<\/p>\n
Os n\u00fameros justificam a estrat\u00e9gia do partido. Em um sistema pol\u00edtico onde a reelei\u00e7\u00e3o \u00e9 regra e a renova\u00e7\u00e3o, exce\u00e7\u00e3o, abrir m\u00e3o de um candidato com capital eleitoral s\u00f3lido \u00e9 um risco calculado \u2013 especialmente para uma esquerda que, desde 2016, vive sob constante ass\u00e9dio judicial, midi\u00e1tico e eleitoral. Almeida, nesse sentido, \u00e9 um sobrevivente. Mas sua resist\u00eancia tamb\u00e9m revela uma armadilha: a esquerda tornou-se ref\u00e9m de seus pr\u00f3prios \u00edcones.<\/p>\n
Quando Almeida menciona o \u201cfunil muito apertado\u201d para candidaturas ao Senado, est\u00e1 falando de um problema estrutural. A escassez de espa\u00e7os de poder n\u00e3o \u00e9 novidade, mas a dificuldade de projetar novas lideran\u00e7as em meio a essa disputa \u00e9 sintoma de uma doen\u00e7a cr\u00f4nica. Enquanto a direita investe em nomes jovens, muitas vezes descolados de trajet\u00f3rias militantes mas eficazes no marketing pol\u00edtico, a esquerda hesita entre dois caminhos:<\/p>\n
O resultado \u00e9 um v\u00e1cuo geracional. Enquanto Lula, Dilma, Boulos e Marielle (esta, tragicamente interrompida) dominam o imagin\u00e1rio da esquerda, poucos nomes emergem nos estados e munic\u00edpios com a mesma for\u00e7a. A Bahia, terra de Almeida, \u00e9 exemplo: um reduto hist\u00f3rico da esquerda, mas onde as novas lideran\u00e7as ainda brigam por visibilidade.<\/p>\n
A resposta envolve pelo menos tr\u00eas fatores:<\/p>\n
Aqui reside o paradoxo. Daniel Almeida \u00e9, sim, necess\u00e1rio: sua experi\u00eancia \u00e9 um ant\u00eddoto contra o amadorismo e o oportunismo. Mas sua perman\u00eancia cont\u00ednua tamb\u00e9m reflete a incapacidade do campo progressista de criar alternativas \u00e0 sua altura. \u00c9 como se a esquerda apostasse todas as fichas em um \u00fanico tipo de jogador, enquanto o advers\u00e1rio treina todo o elenco.<\/p>\n
O pr\u00f3prio Almeida sinaliza esse conflito. Em 2018 e 2022, ele tentou migrar para o Senado ou o governo baiano, mas foi contido pelo partido, que preferiu a seguran\u00e7a do mandato federal. Esse conservadorismo t\u00e1tico, ainda que justific\u00e1vel, adia o inevit\u00e1vel: uma hora, a esquerda precisar\u00e1 enfrentar o desafio de substituir n\u00e3o apenas pessoas, mas modelos.<\/p>\n
A renova\u00e7\u00e3o n\u00e3o vir\u00e1 de slogans ou campanhas midi\u00e1ticas. Ela exigir\u00e1:<\/p>\n
Daniel Almeida, ao buscar seu s\u00e9timo mandato, faz o que sabe fazer melhor: resistir. Mas a esquerda precisa de mais que resist\u00eancia. Precisa de reinven\u00e7\u00e3o. Seu al\u00edvio com a candidatura de Almeida \u00e9 leg\u00edtimo, mas n\u00e3o pode ser son\u00edfero. Afinal, como lembra o pr\u00f3prio deputado, \u201cabrir m\u00e3o de 120 mil votos\u201d \u00e9 arriscado. Por\u00e9m, abrir m\u00e3o do futuro \u00e9 muito mais perigoso.<\/p>\n
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