![\"\"](\"http:\/\/politicaeresenha.com.br\/wp-content\/uploads\/2025\/01\/Imagem-65.png\")
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H\u00e1 dias em que o espelho parece uma contradi\u00e7\u00e3o ambulante. Completo sessenta e cinco anos e, diante do reflexo, vejo marcas que o tempo inscreveu com tinta indel\u00e9vel: rugas que contam hist\u00f3rias, cabelos que se pintaram de prata, m\u00e3os que carregam o mapa de d\u00e9cadas de trabalho. Mas, por tr\u00e1s desse rosto que o calend\u00e1rio insiste em chamar de “idoso”, h\u00e1 um menino que ri, que ainda acredita em aventuras, que se surpreende com o voo de um p\u00e1ssaro e que teima em n\u00e3o entender por que o mundo insiste em rotular a vida em fases estanques.<\/p>\n
Alegria de Chegar: O Presente do Tempo<\/strong> A Consci\u00eancia da Passagem: Quando o Rel\u00f3gio Virou Areia<\/strong> O Menino que Habita o meu Ser: A Eterna Juventude da Alma<\/strong> A S\u00edntese dos Contr\u00e1rios: Viver com os Olhos do Amanh\u00e3 e o Cora\u00e7\u00e3o de Ontem<\/strong> Conclus\u00e3o: A Festa dos Opostos<\/strong> Porque, no fim, a verdadeira idade n\u00e3o est\u00e1 nos ossos, mas no brilho do olhar. E o meu, hoje, ainda brilha como o de um garoto que acabou de descobrir que o mundo \u00e9 infinito.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" H\u00e1 dias em que o espelho parece uma contradi\u00e7\u00e3o ambulante. Completo sessenta e cinco anos e, diante do reflexo, vejo marcas que o tempo inscreveu com tinta indel\u00e9vel: rugas que contam hist\u00f3rias, cabelos que se pintaram de prata<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":14676,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[6],"tags":[3],"class_list":["post-14675","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-educacao","tag-destaque"],"yoast_head":"\n
\nSessenta e cinco anos s\u00e3o uma vit\u00f3ria. Uma celebra\u00e7\u00e3o de resist\u00eancia. Quantas tempestades foram atravessadas? Quantas alegrias foram semeadas? H\u00e1 uma do\u00e7ura em olhar para tr\u00e1s e perceber que, apesar das quedas, continuamos de p\u00e9. \u00c9 a idade em que muitos se aposentam, mas aposentadoria, aqui, n\u00e3o \u00e9 sin\u00f4nimo de despedida. \u00c9 um novo come\u00e7o: tempo livre para reencontrar paix\u00f5es adormecidas, para viajar sem destino, para ler os livros empilhados na estante, para abra\u00e7ar os netos e lhes sussurrar segredos que s\u00f3 a experi\u00eancia conhece.<\/p>\n
\nMas h\u00e1 um outro lado nessa moeda. De repente, percebemos que a vida passou r\u00e1pido demais. Aquele primeiro dia de escola, o cheiro do uniforme novo, a primeira paix\u00e3o adolescente, o susto de virar adulto, as noites em claro cuidando de filhos pequenos \u2014 tudo parece ter acontecido h\u00e1 uma semana. O tempo, esse ilusionista, nos faz crer que temos controle sobre ele, at\u00e9 que um dia olhamos para as m\u00e3os e vemos que ele escorreu como areia fina. A pergunta que ecoa \u00e9:\u00a0“O que fiz com os meus dias?”<\/em>\u00a0N\u00e3o se trata de arrependimento, mas de um estranho luto pelas horas que n\u00e3o soubemos saborear devagar.<\/p>\n
\nEis, por\u00e9m, o segredo que os anos nos revelam: envelhecer n\u00e3o \u00e9 trair a pr\u00f3pria ess\u00eancia. O menino que fui \u2014 cheio de perguntas, com medo do escuro, fascinado por formigas trabalhando, dono de uma imagina\u00e7\u00e3o que transformava cabanas de len\u00e7ol em castelos \u2014 ainda est\u00e1 aqui. Ele se esconde nas gargalhadas \u00e0 toa, na curiosidade por um c\u00e9u estrelado, na vontade de correr na chuva (mesmo que os joelhos reclamen). Envelhecer, quando feito com gra\u00e7a, \u00e9 permitir que esse menino e o anci\u00e3o coexistam. Um oferece leveza; o outro, sabedoria.<\/p>\n
\nAos sessenta e cinco, aprendemos que a vida n\u00e3o \u00e9 linear, mas uma espiral. Volta-se aos mesmos lugares, mas com novos olhos. O passado n\u00e3o some; ele se transforma em ra\u00edzes. E o futuro, ainda que mais curto, ganha intensidade. H\u00e1 uma urg\u00eancia serena em viver: n\u00e3o mais correndo atr\u00e1s do vento, mas dan\u00e7ando com ele.<\/p>\n
\nSe pudesse dar um conselho ao meu eu mais jovem, diria: “N\u00e3o temas os anos. Eles trar\u00e3o dores, sim, mas tamb\u00e9m trar\u00e3o a incr\u00edvel habilidade de rir de si mesmo, de amar sem exig\u00eancias, de encontrar felicidade em um caf\u00e9 quente ou no sil\u00eancio de uma manh\u00e3 ensolarada”. Sessenta e cinco anos s\u00e3o a prova de que \u00e9 poss\u00edvel envelhecer sem endurecer, celebrar sem negar a melancolia, e carregar dentro de si \u2014 sempre \u2014 aquele menino que acredita que a vida, mesmo breve, cabe toda em um s\u00f3 dia.<\/p>\n