{"id":14872,"date":"2025-01-31T16:30:21","date_gmt":"2025-01-31T19:30:21","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=14872"},"modified":"2025-01-31T16:30:21","modified_gmt":"2025-01-31T19:30:21","slug":"vivendo-um-paradoxo-a-imoralidade-da-extrema-direita-e-a-morte-liquida-da-esquerda-radical-padre-carlos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/vivendo-um-paradoxo-a-imoralidade-da-extrema-direita-e-a-morte-liquida-da-esquerda-radical-padre-carlos\/","title":{"rendered":"Vivendo um Paradoxo: A (I)moralidade da Extrema Direita e a Morte L\u00edquida da Esquerda Radical (Padre Carlos)"},"content":{"rendered":"
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Enquanto o s\u00e9culo XXI se desdobra como um labirinto de contradi\u00e7\u00f5es, um fen\u00f4meno pol\u00edtico intriga e assombra: a extrema direita, como um fantasma sa\u00eddo de um ba\u00fa empoeirado, insiste em assombrar o presente, enquanto a extrema esquerda, que um dia incendiou pra\u00e7as com utopias, dissolve-se como a\u00e7\u00facar no caf\u00e9 quente da p\u00f3s-modernidade. Como explicar que uma corrente pol\u00edtica, associada a regimes autorit\u00e1rios e discursos arcaicos, ressurja com vigor, enquanto a outra, que prometia revolu\u00e7\u00f5es, se esvai em fragmentos de hashtags e debates universit\u00e1rios? A resposta est\u00e1 na forma como cada uma lida com a moralidade, o poder e as ang\u00fastias de seu tempo.<\/p>\n
A extrema direita \u00e9 uma mestra na arte da ressurrei\u00e7\u00e3o. Mesmo envolta no cheiro de naftalina \u2014 s\u00edmbolo de um passado que teima em n\u00e3o morrer \u2014, ela n\u00e3o apenas sobrevive, mas se reinventa. Seu segredo? Uma (i)moralidade flex\u00edvel. Seus l\u00edderes pregam valores imut\u00e1veis (tradi\u00e7\u00e3o, ordem, pureza cultural), mas praticam um pragmatismo desavergonhado. S\u00e3o moralistas quando conv\u00e9m, c\u00ednicos quando necess\u00e1rio.<\/p>\n
Essa dualidade \u00e9 sua for\u00e7a. Em um mundo marcado pela incerteza da globaliza\u00e7\u00e3o, pelo colapso das certezas econ\u00f4micas e pela liquidez das identidades, a extrema direita oferece uma \u00e2ncora: a nostalgia de um passado idealizado, onde hierarquias eram claras e os “inimigos” (imigrantes, minorias, “globalistas”) podiam ser nomeados e combatidos. Seu discurso n\u00e3o precisa ser coerente; basta ser eficaz. Alimenta-se do medo do futuro e do ressentimento de quem se sente abandonado pela modernidade. Enquanto promete seguran\u00e7a, seus l\u00edderes fazem alian\u00e7as com o diabo, desde que o diabo lhes entregue votos.<\/p>\n
Se a direita radical \u00e9 um fantasma que assombra, a esquerda radical tornou-se um espectro que j\u00e1 n\u00e3o assusta ningu\u00e9m. O socialismo revolucion\u00e1rio, outrora capaz de paralisar capitais com greves gerais, hoje se fragmenta em uma mir\u00edade de causas pulverizadas. A luta de classes, eixo central de sua narrativa, foi substitu\u00edda por um ativismo identit\u00e1rio que, embora leg\u00edtimo, carece de unidade estrat\u00e9gica. A esquerda radical n\u00e3o morreu por falta de ideais, mas por excesso de intelectualismo e falta de ch\u00e3o.<\/p>\n
Enquanto a direita simplifica (“o problema \u00e9 o outro”), a esquerda complica. Seus manifestos s\u00e3o tratados filos\u00f3ficos; seus slogans, indecifr\u00e1veis para quem trabalha dez horas por dia. Pior: parte de suas bandeiras foi cooptada pelo capitalismo, que transformou a revolu\u00e7\u00e3o em\u00a0merchandising<\/em>. O anticapitalismo virou tema de document\u00e1rios da Netflix; a justi\u00e7a social, slogan de marcas de t\u00eanis. A esquerda, assim, tornou-se v\u00edtima de seu pr\u00f3prio sucesso parcial: suas ideias foram absorvidas, esvaziadas e recicladas como produtos de consumo.<\/p>\n A pol\u00edtica, hoje, \u00e9 uma guerra de narrativas \u2014 e a extrema direita entendeu isso antes de todos. Ela n\u00e3o debate; emociona. N\u00e3o convence; mobiliza. Seus l\u00edderes falam \u00e0 v\u00edscera, n\u00e3o ao c\u00e9rebro. Usam redes sociais n\u00e3o para discutir pol\u00edticas p\u00fablicas, mas para espalhar p\u00e2nico (“eles est\u00e3o vindo para destruir seu modo de vida!”) e cultivar \u00f3dio (“n\u00f3s contra eles”). Enquanto isso, a esquerda radical, em sua busca por pureza ideol\u00f3gica, tornou-se ref\u00e9m de um discurso que s\u00f3 ecoa dentro de bolhas acad\u00eamicas ou de grupos j\u00e1 convertidos.<\/p>\n A esquerda falha em traduzir sua cr\u00edtica ao sistema em linguagem acess\u00edvel. Enquanto a direita oferece solu\u00e7\u00f5es simples (“fechem as fronteiras!”, “prendam os corruptos!”), a esquerda se perde em explica\u00e7\u00f5es complexas sobre interseccionalidade, necropol\u00edtica e dial\u00e9tica hist\u00f3rica. O resultado? Enquanto uma conquista o cidad\u00e3o comum com promessas de ordem, a outra aliena-o com jarg\u00f5es.<\/p>\n Este paradoxo n\u00e3o \u00e9 um acidente. A extrema direita persiste porque soube explorar o desespero de quem anseia por certezas em um mundo que s\u00f3 oferece incertezas. A extrema esquerda definha porque trocou a rua pela torre de marfim, a mobiliza\u00e7\u00e3o popular pela teoriza\u00e7\u00e3o est\u00e9ril.<\/p>\n Mas a hist\u00f3ria n\u00e3o \u00e9 um beco sem sa\u00edda. A direita radical, por mais que grite, carrega em si as sementes de sua pr\u00f3pria crise: o autoritarismo gera resist\u00eancia; a nega\u00e7\u00e3o da realidade (como mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e pandemias) cobra seu pre\u00e7o. J\u00e1 a esquerda, para renascer, precisa urgentemente de um novo projeto \u2014 menos dogm\u00e1tico, mais conectado \u00e0s urg\u00eancias cotidianas. Deve resgatar a luta por igualdade sem medo de sujar as m\u00e3os na pol\u00edtica real, e aprender que, para vencer, \u00e9 preciso falar n\u00e3o apenas \u00e0 raz\u00e3o, mas ao cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Enquanto isso, o paradoxo segue: a direita, mesmo imoral, sobrevive porque entendeu que a pol\u00edtica \u00e9 um jogo de poder. A esquerda, mesmo cheia de moral, definha porque esqueceu que, sem poder, n\u00e3o h\u00e1 transforma\u00e7\u00e3o poss\u00edvel. O desafio \u00e9 romper esse ciclo \u2014 antes que o cheiro de naftalina se torne o perfume definitivo do nosso tempo.<\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Enquanto o s\u00e9culo XXI se desdobra como um labirinto de contradi\u00e7\u00f5es, um fen\u00f4meno pol\u00edtico intriga e assombra: a extrema direita, como um fantasma sa\u00eddo de um ba\u00fa empoeirado, insiste em assombrar o presente, enquanto a extrema<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":14873,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[11],"tags":[3],"class_list":["post-14872","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-politica","tag-destaque"],"yoast_head":"\nO Jogo das Emo\u00e7\u00f5es vs. A Tirania da Complexidade<\/strong><\/h3>\n
Conclus\u00e3o: A Hist\u00f3ria N\u00e3o Acabou (Mas Precisa de Novo Roteiro)<\/strong><\/h3>\n