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A pol\u00edtica brasileira, especialmente em cidades m\u00e9dias e grandes do interior, \u00e9 frequentemente marcada por estrat\u00e9gias meticulosas de constru\u00e7\u00e3o de poder. Jos\u00e9 Henrique Silva Tigre, o popular Quinho, ex-prefeito de Belo Campo e atual presidente da Uni\u00e3o dos Munic\u00edpios da Bahia (UPB), parece dominar esse jogo com maestria. Seu interesse declarado em disputar a prefeitura de Vit\u00f3ria da Conquista em 2028 n\u00e3o \u00e9 um projeto improvisado, mas um plano calculado, que combina timing eleitoral, articula\u00e7\u00e3o familiar e ocupa\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica de espa\u00e7os.<\/p>\n
A elei\u00e7\u00e3o de sua esposa, L\u00e9ia Meira, para a C\u00e2mara de Vereadores de Vit\u00f3ria da Conquista em 2024, foi o primeiro movimento desse tabuleiro. Ao conquistar uma cadeira no legislativo municipal, L\u00e9ia n\u00e3o apenas abre caminho para a fam\u00edlia Tigre se enraizar na pol\u00edtica local, mas tamb\u00e9m cria uma ponte para que Quinho amplie sua influ\u00eancia na regi\u00e3o. \u00c9 uma t\u00e1tica cl\u00e1ssica: enquanto ele se prepara para migrar de Belo Campo (onde j\u00e1 foi prefeito) para Vit\u00f3ria da Conquista, a presen\u00e7a da esposa no parlamento municipal serve como um \u201ccart\u00e3o de visitas\u201d familiar, garantindo visibilidade e acesso a demandas locais.<\/p>\n
O pr\u00f3ximo passo, conforme anunciado, \u00e9 a candidatura de Quinho \u00e0 Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) em 2026. Se eleito deputado estadual, ter\u00e1 n\u00e3o apenas um mandato para fortalecer sua base na regi\u00e3o, mas tamb\u00e9m recursos pol\u00edticos e institucionais para pavimentar sua chegada \u00e0 prefeitura dois anos depois. Como deputado, poder\u00e1 articular emendas, viabilizar projetos e, acima de tudo, consolidar uma imagem de \u201chomem forte\u201d capaz de trazer desenvolvimento ao Sudoeste baiano. N\u00e3o por acaso, ele j\u00e1 se posiciona em discuss\u00f5es estrat\u00e9gicas, como a cria\u00e7\u00e3o da Regi\u00e3o Metropolitana do Sudoeste da Bahia \u2014 tema que, se bem explorado, pode render dividendos eleitorais ao unir munic\u00edpios em torno de uma agenda comum.<\/p>\n
Mas h\u00e1 desafios concretos. Para concorrer \u00e0 prefeitura de Vit\u00f3ria da Conquista em 2028, Quinho precisar\u00e1 transferir seu domic\u00edlio eleitoral, o que exige mais do que uma mudan\u00e7a formal de endere\u00e7o. \u00c9 necess\u00e1rio estabelecer v\u00ednculos reais com a cidade, convencer eleitores de que n\u00e3o \u00e9 um \u201cestrangeiro pol\u00edtico\u201d e construir uma narrativa que legitime sua conex\u00e3o com as demandas locais. A\u00ed reside um paradoxo: como presidente da UPB, ele tem tr\u00e2nsito estadual, mas Vit\u00f3ria da Conquista \u2014 terceiro maior col\u00e9gio eleitoral da Bahia \u2014 \u00e9 um campo distinto, com din\u00e2micas pr\u00f3prias e uma popula\u00e7\u00e3o que historicamente valoriza figuras enraizadas na regi\u00e3o.<\/p>\n
O cen\u00e1rio, por\u00e9m, parece favor\u00e1vel. A queda de influ\u00eancia do PT na cidade, evidenciada pela baixa vota\u00e7\u00e3o do deputado Waldenor Pereira nas \u00faltimas elei\u00e7\u00f5es, deixou um v\u00e1cuo na oposi\u00e7\u00e3o ao atual governo municipal. Quinho, com seu perfil moderado e experi\u00eancia na gest\u00e3o p\u00fablica, surge como uma alternativa vi\u00e1vel para capitalizar esse descontentamento. Seu discurso em torno do desenvolvimento regional e da integra\u00e7\u00e3o metropolitana pode ressoar em um eleitorado que busca propostas concretas para desafios como emprego, infraestrutura e seguran\u00e7a.<\/p>\n
Contudo, h\u00e1 quest\u00f5es \u00e9ticas e pol\u00edticas a serem observadas. A estrat\u00e9gia de usar mandatos legislativos (pr\u00f3prios e de familiares) como trampolim para cargos executivos n\u00e3o \u00e9 nova, mas sempre carrega riscos. Eleitores est\u00e3o cada vez mais cr\u00edticos a projetos pessoais de poder que parecem desconectados de uma agenda coletiva. Al\u00e9m disso, a transfer\u00eancia de domic\u00edlio eleitoral, se n\u00e3o acompanhada de uma atua\u00e7\u00e3o genu\u00edna, pode ser vista como oportunismo \u2014 um r\u00f3tulo dif\u00edcil de dissociar.<\/p>\n
Quinho, contudo, aposta que sua experi\u00eancia como gestor (em Belo Campo) e sua rede de influ\u00eancia na UPB ser\u00e3o suficientes para superar essas barreiras. Seu plano \u00e9 claro: ocupar espa\u00e7os progressivamente, de forma a tornar sua candidatura em 2028 n\u00e3o apenas poss\u00edvel, mas inevit\u00e1vel. Resta saber se os eleitores de Vit\u00f3ria da Conquista, uma cidade com tradi\u00e7\u00e3o de lideran\u00e7as pr\u00f3prias e orgulho regional, estar\u00e3o dispostos a abra\u00e7ar um projeto que, embora bem arquitetado, ainda precisa provar que \u00e9 mais do que uma ambi\u00e7\u00e3o pessoal.<\/p>\n
Enquanto isso, a pol\u00edtica segue seu curso \u2014 e Quinho, com calculismo e paci\u00eancia, move suas pe\u00e7as no tabuleiro.<\/p>\n
Padre Carlos<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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