{"id":14993,"date":"2025-02-04T08:04:13","date_gmt":"2025-02-04T11:04:13","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=14993"},"modified":"2025-02-04T08:06:52","modified_gmt":"2025-02-04T11:06:52","slug":"ao-tempo-escultor-de-rostos-e-almas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/ao-tempo-escultor-de-rostos-e-almas\/","title":{"rendered":"Ao Tempo, Escultor de Rostos e Almas (Padre Carlos)"},"content":{"rendered":"
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H\u00e1 uma quietude peculiar naqueles que carregam nas rugas n\u00e3o apenas anos, mas hist\u00f3rias. Quem teve o privil\u00e9gio de viver muito sabe que o tempo n\u00e3o \u00e9 um rel\u00f3gio, mas um mestre caprichoso. Ele n\u00e3o obedece \u00e0 linearidade dos ponteiros; ensina com a imprevisibilidade de um rio. \u00c0s vezes, suas li\u00e7\u00f5es chegam como enxurradas, arrastando certezas e desmanchando planos. Outras vezes, s\u00e3o sutis como o orvalho que umedece a terra sem pressa, gota a gota, diante das perguntas que fazemos \u00e0 vida \u2014 fr\u00e1geis e persistentes como a ave-de-\u00edris que paira sobre flores, buscando n\u00e9ctar.<\/p>\n
O tempo nos concede, primeiro, a ilus\u00e3o do controle. Acreditamos que amores ardentes s\u00e3o eternos, que urg\u00eancias n\u00e3o podem esperar, que a agilidade dos passos jamais se cansar\u00e1. Mas ele, paciente e ir\u00f4nico, desfia cada uma dessas certezas. Um dia, olhamos para tr\u00e1s e percebemos que as chamas se transformaram em brasas serenas, que as corridas desesperadas deram lugar a caminhadas contemplativas, e que os corpos, outrora incans\u00e1veis, agora carregam o peso sagrado da mem\u00f3ria. A vida, afinal, \u00e9 um baile onde todos dan\u00e7amos, mesmo quando o ritmo muda sem aviso.<\/p>\n
Como disse Caetano: “\u00c9 um senhor t\u00e3o bonito Quanto a cara do meu filho Tempo, tempo, tempo, tempo Vou te fazer um pedido\u2026”<\/p>\n
O que surpreende n\u00e3o \u00e9 a mudan\u00e7a \u2014 ela \u00e9 inevit\u00e1vel \u2014, mas a forma como o tempo molda nossa rela\u00e7\u00e3o com ela. Fam\u00edlias se reinventam, amigos partem, novos rostos surgem, e n\u00f3s, espectadores e protagonistas, aprendemos a ver o turbilh\u00e3o com olhos serenos. N\u00e3o porque a dor seja menor, mas porque compreendemos que nada fica parado. At\u00e9 o amor, esse eterno fugitivo, se transfigura: do arrebatamento juvenil \u00e0 ternura que se alimenta de sil\u00eancios compartilhados.<\/p>\n
E no centro desse redemoinho, apenas o tempo permanece inalterado em sua ess\u00eancia. Ele n\u00e3o acelera, n\u00e3o hesita, n\u00e3o se comove. Passa. \u00c9 o \u00fanico convidado do baile que nunca se senta, nunca cansa, nunca pede licen\u00e7a. E \u00e9 justamente essa indiferen\u00e7a majestosa que nos permite, paradoxalmente, encontrar beleza na efemeridade. Cada ruga, cada cicatriz, cada fio branco s\u00e3o marcas de uma conversa \u00edntima com ele. S\u00e3o medalhas de sobreviv\u00eancia, testemunhas de que estivemos aqui, vulner\u00e1veis e corajosos, enquanto ele nos esculpia.<\/p>\n
Por isso, hoje, ergo meu brinde ao tempo. N\u00e3o ao tempo inimigo, que assombra os jovens com seu suposto \u201cdesperd\u00edcio\u201d, mas ao tempo aliado, que nos ensina a arte invis\u00edvel de renascer. Ao tempo que, mesmo quando nos fere, nos entrega de presente a sabedoria de enxergar luz nas frestas. Ao tempo que transforma l\u00e1grimas em rios e risos em constela\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Que possamos honrar suas marcas, n\u00e3o como sinais de decad\u00eancia, mas como hier\u00f3glifos de uma exist\u00eancia plena. E que, no fim do baile, quando a m\u00fasica cessar, possamos dizer: \u201cValeu a pena. At\u00e9 as quedas foram parte da dan\u00e7a\u201d.<\/p>\n
Ao tempo. Sem ressentimentos, apenas gratid\u00e3o.<\/strong><\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" H\u00e1 uma quietude peculiar naqueles que carregam nas rugas n\u00e3o apenas anos, mas hist\u00f3rias. Quem teve o privil\u00e9gio de viver muito sabe que o tempo n\u00e3o \u00e9 um rel\u00f3gio, mas um mestre caprichoso. Ele n\u00e3o obedece \u00e0 linearidade dos p<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":14994,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[6],"tags":[3],"class_list":["post-14993","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-educacao","tag-destaque"],"yoast_head":"\n