{"id":15121,"date":"2025-02-07T07:36:51","date_gmt":"2025-02-07T10:36:51","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=15121"},"modified":"2025-02-07T07:36:51","modified_gmt":"2025-02-07T10:36:51","slug":"os-pobres-de-esquerda-ainda-estao-aqui-nossa-esquerda-preconceituosa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/os-pobres-de-esquerda-ainda-estao-aqui-nossa-esquerda-preconceituosa\/","title":{"rendered":"OS POBRES DE ESQUERDA AINDA EST\u00c3O AQUI! NOSSA ESQUERDA PRECONCEITUOSA"},"content":{"rendered":"
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Pe\u00e7o licen\u00e7a aos leitores para iniciar este artigo citando o grande Santo Agostinho (354-430), que disse: \u201cTeus pecados s\u00e3o a tua tristeza, deixe que a santidade seja a tua alegria\u201d. Fa\u00e7o essa cita\u00e7\u00e3o n\u00e3o por acaso, mas porque desejo convidar a reflex\u00e3o sobre um dos mais profundos pecados de nossa sociedade e, em especial, de nossa esquerda: o preconceito velado contra aqueles que dizem defender.<\/p>\n
A hist\u00f3ria de Elizabeth Teixeira, uma mulher que desafiou a opress\u00e3o do latif\u00fandi\u00e1rio e da ditadura, \u00e9 um exemplo vivo da luta de tantos pobres, camponeses e oper\u00e1rios que nunca tiveram voz. Seu marido, assassinado pelo Estado, sua filha, morta pela dor, sua vida clandestina e de resist\u00eancia, s\u00e3o marcas de um Brasil que insiste em esquecer aqueles que foram sua verdadeira base de transforma\u00e7\u00e3o social. Mas, enquanto nomes de jornalistas mortos pela ditadura ecoam com indignada eloqu\u00eancia, o mesmo n\u00e3o ocorre com os oper\u00e1rios e camponeses que tombaram sem manchetes ou revolta midi\u00e1tica.<\/p>\n
Os pobres de esquerda ainda est\u00e3o aqui. Mas onde est\u00e1 a esquerda para eles? O oper\u00e1rio que cai assassinado pela repress\u00e3o tem a mesma relev\u00e2ncia que o intelectual morto pelo regime? A camponesa que foge da persegui\u00e7\u00e3o \u00e9 celebrada com a mesma pompa que um artista engajado? A resposta, infelizmente, \u00e9 n\u00e3o. O preconceito de classe se manifesta at\u00e9 mesmo entre aqueles que juram combat\u00ea-lo.<\/p>\n
O cinema, como espelho dessa seletividade, tamb\u00e9m escancara esse abismo. O recente filme “Ainda Estou Aqui” de Walter Salles, ovacionado pela cr\u00edtica e apontado como favorito ao Oscar, n\u00e3o \u00e9 o primeiro a retratar a viol\u00eancia estatal e as cicatrizes da ditadura. Mas um filme sobre um oper\u00e1rio ou uma camponesa retirante jamais teria o mesmo prest\u00edgio. Eduardo Coutinho, h\u00e1 41 anos, nos trouxe a hist\u00f3ria de Elizabeth Teixeira em “Cabra Marcado Para Morrer”, um document\u00e1rio que ficou no limbo por quase duas d\u00e9cadas at\u00e9 ser conclu\u00eddo. Quem se lembra? Quem discute esse filme nas academias de cinema? A esquerda cultural se importa?<\/p>\n
O DOI-Codi assassinou Manoel Fiel Filho, um trabalhador, um oper\u00e1rio. Disseram que ele se matou, tal como fizeram com Vladimir Herzog. Mas o impacto foi diferente. A esquerda erudita, a imprensa e os intelectuais gritaram por Herzog. Manoel Fiel Filho, no entanto, n\u00e3o teve o mesmo holofote. O Brasil de esquerda que defende os pobres, muitas vezes, olha para eles com a mesma indiferen\u00e7a elitista que tanto critica na direita.<\/p>\n
O tempo passa, e os pobres continuam aqui. Continuam lutando, resistindo, sendo assassinados nas periferias, sendo explorados no campo. Continuam sem terra, sem direitos, sem voz. A esquerda que se diz popular, por\u00e9m, cada vez mais se distancia deles. Preocupa-se mais com discursos refinados do que com a real transforma\u00e7\u00e3o social. Romantiza a pobreza, mas n\u00e3o a vivencia. Celebra os intelectuais engajados, mas ignora o pedreiro morto no caminho do trabalho.<\/p>\n
Ser\u00e1 que \u00e9 a academia de cinema a verdadeira preconceituosa ou \u00e9 a pr\u00f3pria esquerda que abandonou os seus? O problema n\u00e3o \u00e9 apenas a invisibilidade dos pobres diante do grande p\u00fablico. O problema \u00e9 a esquerda, que se pretende defensora deles, tamb\u00e9m agir assim. Se quisermos um pa\u00eds mais justo, precisamos come\u00e7ar por encarar as verdades inc\u00f4modas que preferimos varrer para debaixo do tapete. Os pobres de esquerda ainda est\u00e3o aqui. Mas onde est\u00e1 a esquerda para eles?<\/p>\n
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