![\"\"](\"http:\/\/politicaeresenha.com.br\/wp-content\/uploads\/2025\/02\/reflexao-liturgia-do-vi-domingo-do-tempo-comum-ano-c-16-02-2025-14-02-2025.jpg\")
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No Serm\u00e3o da Plan\u00edcie, descrito em Lucas 6, Jesus n\u00e3o apenas ensina; Ele subverte. Diante de uma multid\u00e3o de pobres, famintos e perseguidos, o Mestre n\u00e3o oferece f\u00f3rmulas m\u00e1gicas para escapar da dor, mas proclama que a felicidade est\u00e1\u00a0justamente<\/em>\u00a0naquilo que o mundo rejeita: na fragilidade partilhada, na fome de justi\u00e7a, na capacidade de amar mesmo quando tudo \u00e9 tirado. Esse discurso, ecoado pelo Papa Francisco em 2019, n\u00e3o \u00e9 um consolo piegas. \u00c9 um manifesto revolucion\u00e1rio que desafia nossa miopia espiritual e nossa cumplicidade com sistemas que perpetuam a desigualdade.<\/p>\n Ao descer da montanha, como um novo Mois\u00e9s, Jesus n\u00e3o traz t\u00e1buas de pedra, mas um c\u00f3digo \u00e9tico escrito na carne humana. Suas palavras \u2014 \u201cBem-aventurados v\u00f3s, os pobres\u201d \u2014 n\u00e3o romantizam a mis\u00e9ria. Elas revelam um\u00a0lugar teol\u00f3gico<\/em>: Deus est\u00e1 onde o mundo n\u00e3o quer ver. Ao constatar a realidade da multid\u00e3o (Lc 6,17), Jesus identifica seus interlocutores: os exclu\u00eddos, os que choram, os famintos de dignidade. S\u00e3o os mesmos que hoje habitam periferias, ocupam acampamentos, ou s\u00e3o invisibilizados por discursos de meritocracia.<\/p>\n O Papa Francisco, no Angelus de 2019, alertou: n\u00e3o confiemos nos \u201cvendedores de fuma\u00e7a\u201d, aqueles que prometem felicidade atrav\u00e9s do consumo, do poder ou da indiferen\u00e7a. Jesus, por\u00e9m, vai al\u00e9m: Ele n\u00e3o s\u00f3 denuncia os opressores (\u201cAi de v\u00f3s, os ricos!\u201d), mas exp\u00f5e a raiz do mal \u2014 cora\u00e7\u00f5es que se saciam enquanto outros passam fome.<\/p>\n Jesus n\u00e3o se contenta em chamar os pobres de \u201cfelizes\u201d. Ele os declara\u00a0herdeiros do Reino<\/em>, invertendo a l\u00f3gica de um mundo onde heran\u00e7as s\u00e3o privil\u00e9gio de castas. Mas como traduzir essa heran\u00e7a em gestos concretos? O texto sugere uma pergunta inc\u00f4moda:\u00a0de que lado estamos quando a hist\u00f3ria \u00e9 escrita?<\/strong><\/p>\n Os movimentos sociais, frequentemente satanizados pela m\u00eddia e pelas elites, s\u00e3o os protagonistas silenciados dessa narrativa. Enquanto l\u00edderes que lutam por reforma agr\u00e1ria, moradia ou direitos ind\u00edgenas s\u00e3o criminalizados, figuras que perpetuam injusti\u00e7as s\u00e3o enaltecidas como \u201cvision\u00e1rias\u201d. A historiografia, muitas vezes, repete esse vi\u00e9s: canoniza os poderosos e apaga os m\u00e1rtires das causas sociais. Quem, afinal, lembra os nomes dos que foram assassinados por defender rios e florestas? Quem celebra os que compartilham o p\u00e3o em vez de acumul\u00e1-lo?<\/p>\n As Bem-aventuran\u00e7as n\u00e3o s\u00e3o um opi\u00f3ide para adormecer os oprimidos, mas um chamado \u00e0 insurrei\u00e7\u00e3o \u00e9tica. Amar os inimigos, partilhar a t\u00fanica, oferecer a outra face \u2014 esses gestos n\u00e3o s\u00e3o passividade. S\u00e3o a recusa radical de reproduzir a viol\u00eancia do sistema. Jesus, despojado de tudo na cruz, manteve intacta sua liberdade de amar. Essa \u00e9 a arma mais perigosa: uma solidariedade que desmonta, tijolo por tijolo, os muros da indiferen\u00e7a.<\/p>\n O Papa Francisco insiste: a esperan\u00e7a n\u00e3o est\u00e1 nos \u201cprofissionais da ilus\u00e3o\u201d, mas nos que veem a realidade com os olhos do Reino. Isso exige coragem para enfrentar perguntas inc\u00f4modas: Por que l\u00edderes como Dorothy Stang ou Chico Mendes s\u00e3o mais citados do que imitados? Por que hesitamos em apoiar lutas coletivas, preferindo caridades paliativas? A verdadeira f\u00e9 n\u00e3o cabe no conforto das doa\u00e7\u00f5es dedut\u00edveis no imposto; ela exige risco, envolvimento, at\u00e9 impopularidade.<\/p>\n Jesus n\u00e3o fundou um clube espiritual para consolar aflitos. Ele inaugurou um movimento que desestabiliza o\u00a0status quo<\/em>. As Bem-aventuran\u00e7as s\u00e3o um divisor de \u00e1guas: ou nos comprometemos com os pobres \u2014 n\u00e3o como objeto de pena, mas como sujeitos de transforma\u00e7\u00e3o \u2014 ou nos tornamos c\u00famplices dos \u201cais\u201d destinados aos exploradores.<\/p>\n A felicidade do Reino n\u00e3o \u00e9 um pr\u00eamio p\u00f3s-morte; \u00e9 uma semente plantada hoje na luta por justi\u00e7a. Como escreveu Dom Pedro Casald\u00e1liga, \u201co Evangelho \u00e9 uma faca de ponta que corta as amarras da resigna\u00e7\u00e3o\u201d. Que n\u00e3o nos enganemos: Deus n\u00e3o est\u00e1 neutro. Ele est\u00e1 no grito dos que t\u00eam fome, no sonho dos que tecem redes de solidariedade, na coragem dos que, mesmo caluniados, n\u00e3o calam.<\/p>\n A pergunta final n\u00e3o \u00e9 se seremos bem-aventurados, mas se temos a ousadia de viver como se o Reino j\u00e1 estivesse aqui \u2014 ainda que isso custe a nossa tranquilidade. Afinal, como lembra o Papa, a \u00fanica felicidade que n\u00e3o desilude \u00e9 a que nasce do amor que se doa. E amor, sabemos, nunca foi sin\u00f4nimo de sil\u00eancio.<\/p>\n<\/div>\nO Novo Mois\u00e9s e a Lei da Solidariedade<\/strong><\/h3>\n
A Bem-aventuran\u00e7a como A\u00e7\u00e3o Pol\u00edtica<\/strong><\/h3>\n
O Esc\u00e2ndalo da Felicidade Inconformista<\/strong><\/h3>\n
Conclus\u00e3o: Do Louvor \u00e0 Luta<\/strong><\/h3>\n
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