{"id":15810,"date":"2025-02-26T09:08:16","date_gmt":"2025-02-26T12:08:16","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=15810"},"modified":"2025-03-10T20:49:10","modified_gmt":"2025-03-10T23:49:10","slug":"o-xadrez-baiano-a-arte-silenciosa-de-otto-alencar-no-comando-do-tabuleiro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/o-xadrez-baiano-a-arte-silenciosa-de-otto-alencar-no-comando-do-tabuleiro\/","title":{"rendered":"\u00a0O Xadrez Baiano: A Arte Silenciosa de Otto Alencar no Comando do Tabuleiro (Padre Carlos)"},"content":{"rendered":"
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Na pol\u00edtica, apar\u00eancias raramente revelam a ess\u00eancia. Na Bahia, onde o sol brilha forte e as mar\u00e9s do poder s\u00e3o t\u00e3o complexas quanto as do Rec\u00f4ncavo Baiano, o Partido dos Trabalhadores (PT) ostenta a fachada de protagonismo. Mas, nos bastidores, quem segura as r\u00e9deas do jogo \u00e9 um estrategista que prefere o sil\u00eancio aos holofotes: Otto Alencar. Enquanto o PT dan\u00e7a ao som de suas pr\u00f3prias narrativas, \u00e9 o senador do PSD quem dita o ritmo, revelando que, no tabuleiro pol\u00edtico baiano, o verdadeiro poder n\u00e3o grita \u2013 sussurra.<\/p>\n
H\u00e1 d\u00e9cadas, o PT constr\u00f3i sua imagem como for\u00e7a hegem\u00f4nica na Bahia, amparado por figuras como Jaques Wagner, Rui Costa e o atual governador Jer\u00f4nimo Rodrigues. A narrativa de unidade e dom\u00ednio, no entanto, esconde uma realidade mais sutil. O epis\u00f3dio emblem\u00e1tico de 2020, quando Rui Costa tentou empurrar Otto de volta ao governo estadual para assumir seu lugar no Senado, exp\u00f4s a din\u00e2mica oculta: Otto n\u00e3o apenas rejeitou a proposta como inverteu o jogo, obrigando Lula a levar Rui para Bras\u00edlia. O recado foi claro: na Bahia, at\u00e9 o Planalto precisa negociar com o senador.<\/p>\n
A li\u00e7\u00e3o se repete. Enquanto petistas ocupam cargos de visibilidade, Otto consolida sua base em sil\u00eancio. O PSD, sob sua lideran\u00e7a, hoje controla 27% das prefeituras baianas, superando o PT em capilaridade. Seis deputados federais e nove estaduais fazem do partido a \u00e2ncora da base governista, um feito que nenhum discurso petista consegue ofuscar.<\/p>\n
A pol\u00edtica baiana opera sob uma hierarquia n\u00e3o escrita. Enquanto Otto \u00e9 tratado como “tubar\u00e3o” \u2013 aquele que exige respeito e define condi\u00e7\u00f5es \u2013, outros, como Angelo Coronel, s\u00e3o relegados \u00e0 categoria de “peixe mi\u00fado”. Coronel, tamb\u00e9m do PSD, viu-se preterido na articula\u00e7\u00e3o para 2026, enquanto Otto mant\u00e9m seu lugar ao sol. A diferen\u00e7a de tratamento n\u00e3o \u00e9 acaso: \u00e9 sintoma de um sistema que premia quem controla redes de influ\u00eancia, n\u00e3o apenas siglas partid\u00e1rias.<\/p>\n
O PT, por sua vez, pratica a seletividade. Para os aliados essenciais, como Otto, h\u00e1 flexibilidade e concess\u00f5es. Para os demais, resta a submiss\u00e3o ou o ostracismo. Coronel, sem o peso pol\u00edtico do colega de partido, agora busca sobreviver em legendas marginais, enquanto Otto negocia seu espa\u00e7o sem alarde.<\/p>\n
O an\u00fancio de Jer\u00f4nimo Rodrigues sobre a “chapa puro-sangue” petista para 2026 \u2013 com ele pr\u00f3prio na reelei\u00e7\u00e3o, Jaques Wagner no Senado e Rui Costa na outra vaga \u2013 parece sinalizar a vit\u00f3ria do projeto petista. Mas \u00e9 uma vit\u00f3ria de fachada. O arranjo s\u00f3 avan\u00e7a porque Otto Alencar permite. O senador, astuto, compreende que ceder espa\u00e7o t\u00e1tico agora fortalece sua posi\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica no longo prazo.<\/p>\n
Enquanto o PT celebra sua unidade, Otto mant\u00e9m o poder de veto. Se hoje ele n\u00e3o “bate na mesa”, como fez em 2020, \u00e9 porque n\u00e3o precisa: sua influ\u00eancia j\u00e1 est\u00e1 internalizada. O PT age dentro dos limites que ele demarcou, como um jogador que acredita estar livre, mas ignora as cordas que o mant\u00eam amarrado.<\/p>\n
H\u00e1 um ditado na pol\u00edtica: “Quem manda, fala pouco”. Otto personifica essa m\u00e1xima. Enquanto Rui Costa se apresenta como articulador e Lula como chefe, o senador prefere agir nos bastidores, onde as verdadeiras decis\u00f5es s\u00e3o tomadas. Seu estilo discreto n\u00e3o \u00e9 fraqueza, mas m\u00e9todo. Ao permitir que o PT ocupe a vitrine, ele evita conflitos diretos e preserva energia para as batalhas essenciais.<\/p>\n
O risco para o PT \u00e9 claro: sua hegemonia aparente depende da anu\u00eancia de um aliado que n\u00e3o hesitaria em derrub\u00e1-la se seus interesses fossem amea\u00e7ados. Basta lembrar 2020: quando Otto decidiu agir, o plano petista desmoronou em horas.<\/p>\n
A pol\u00edtica baiana ensina que o poder real n\u00e3o precisa de microfones. Otto Alencar, mestre do xadrez regional, entende que, \u00e0s vezes, \u00e9 mais eficaz deixar os advers\u00e1rios acreditarem que est\u00e3o no controle. O PT pode at\u00e9 ditar o roteiro, mas \u00e9 Otto quem segura a caneta \u2013 e, se necess\u00e1rio, riscar\u00e1 o texto.<\/p>\n
Em 2026, quando as pe\u00e7as do tabuleiro se moverem novamente, n\u00e3o ser\u00e1 Lula, Rui ou Jer\u00f4nimo quem definir\u00e1 o jogo. Ser\u00e1 o estrategista que, desde as sombras, j\u00e1 tra\u00e7ou todos os lances poss\u00edveis. Enquanto isso, a Bahia assiste \u00e0 mesma pe\u00e7a de sempre: um partido que acredita ser ator principal, mas n\u00e3o percebe que o palco pertence a outro.<\/p>\n<\/div>\n