http:\/\/politicaeresenha.com.br\/wp-content\/uploads\/2025\/03\/Guilherme-e-Luiz-1-1.mp3<\/a><\/audio>\nNos momentos mais sombrios da hist\u00f3ria, quando a censura cerra os l\u00e1bios e o medo se infiltra nas entrelinhas, a met\u00e1fora surge como o ref\u00fagio do artista e a arma da resist\u00eancia. Sob regimes autorit\u00e1rios, a palavra direta \u00e9 silenciada, mas o simbolismo e a sutileza po\u00e9tica encontram brechas onde o grito \u00e9 proibido. Foi assim que Chico Buarque driblou a repress\u00e3o, transformando versos aparentemente inofensivos em mensagens de contesta\u00e7\u00e3o. E \u00e9 nessa tradi\u00e7\u00e3o que se insere a m\u00fasica Dona On\u00e7a, de Luiz Caldas e Guilherme Menezes, cuja for\u00e7a simb\u00f3lica evoca a eterna luta contra aqueles que tentam reescrever a hist\u00f3ria para apagar a mem\u00f3ria coletiva.<\/p>\n
O verso de Chico \u2013 \u201cHoje voc\u00ea \u00e9 quem manda, falou, t\u00e1 falado\u201d \u2013 ressoa como um retrato atemporal do autoritarismo: a imposi\u00e7\u00e3o da obedi\u00eancia sem contesta\u00e7\u00e3o. No entanto, a mesma m\u00fasica que parecia se curvar ao poder, em sua segunda camada de significado, ironizava a fragilidade dos regimes que se sustentam apenas pelo medo. Assim, a arte se transforma em trincheira e o artista, mesmo amorda\u00e7ado, aprende a falar em c\u00f3digos.<\/p>\n
A met\u00e1fora \u00e9 o esconderijo da verdade. Dona On\u00e7a reflete essa l\u00f3gica. A figura da on\u00e7a, s\u00edmbolo de for\u00e7a e domina\u00e7\u00e3o, representa um poder arbitr\u00e1rio que, por um tempo, parecia inabal\u00e1vel. No entanto, os versos denunciam sua derrocada: \u201cVoc\u00ea perdeu, dona on\u00e7a, pega teu rumo e vaza\u201d. Aqui, a can\u00e7\u00e3o assume um papel de vingan\u00e7a po\u00e9tica, resgatando um princ\u00edpio que os tiranos esquecem: o poder imposto pela for\u00e7a n\u00e3o dura para sempre.<\/p>\n
Mais do que uma den\u00fancia, a m\u00fasica tamb\u00e9m exp\u00f5e a sanha destrutiva dos regimes autorit\u00e1rios. Quando Luiz Caldas e Guilherme Menezes cantam \u201cNossos livros, nossos quadros e nossas ricas mem\u00f3rias, tudo por voc\u00ea rasgado pra apagar nossa hist\u00f3ria\u201d, denunciam o revisionismo, a queima de registros culturais e a tentativa de transformar a ignor\u00e2ncia em pol\u00edtica de Estado. A hist\u00f3ria j\u00e1 mostrou que ditaduras n\u00e3o se contentam apenas em calar vozes \u2013 elas tentam apagar os rastros de quem ousou falar.<\/p>\n
Mas h\u00e1 algo que o poder bruto nunca entendeu: as palavras se infiltram nas brechas, a m\u00fasica se espalha como sussurro no vento, e a arte sobrevive mesmo quando seus criadores s\u00e3o perseguidos. Chico Buarque j\u00e1 sabia disso. Luiz Caldas e Guilherme Menezes reafirmam essa verdade. Quando a repress\u00e3o acredita ter vencido, a poesia est\u00e1 apenas esperando o momento de ressurgir, cantada em rima e verso, para lembrar ao opressor que sua queda\u00a0\u00e9\u00a0inevit\u00e1vel.<\/p>\n
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Padre Carlos<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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ARTIGO \u2013 A Met\u00e1fora Como Arma Contra o Autoritarismo - Pol\u00edtica e Resenha<\/title>\n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n