![\"\"](\"http:\/\/politicaeresenha.com.br\/wp-content\/uploads\/2025\/03\/Cosme_de_Farias_-_quadro_do_Memorial_-_09-07-14_-_CMS.jpg\")
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No cen\u00e1rio brasileiro, onde as desigualdades sociais e raciais ainda ecoam os grilh\u00f5es do passado, a figura de Cosme de Farias surge como um farol de resist\u00eancia e esperan\u00e7a. Neste sesquicenten\u00e1rio de seu nascimento (1875-2025), revisitar sua trajet\u00f3ria n\u00e3o \u00e9 apenas um exerc\u00edcio de mem\u00f3ria, mas um manifesto pol\u00edtico sobre o poder da justi\u00e7a popular.<\/p>\n
Nascido em Salvador, no sub\u00farbio de S\u00e3o Tom\u00e9 de Paripe, Cosme de Farias era filho de uma negra liberta, em uma sociedade marcada pelo racismo estrutural p\u00f3s-escravid\u00e3o\u00a06<\/span>. Sua forma\u00e7\u00e3o limitou-se ao ensino prim\u00e1rio, mas sua sede por justi\u00e7a o transformou em um r\u00e1bula \u2014 advogado autodidata que desafiava as barreiras acad\u00eamicas para defender os exclu\u00eddos. Sua ascens\u00e3o n\u00e3o foi apenas pessoal: foi um ato de insurg\u00eancia contra um sistema que negava voz aos pobres e negros.<\/p>\n Cosme n\u00e3o seguia os manuais jur\u00eddicos; escrevia sua pr\u00f3pria doutrina na pr\u00e1tica. Atuou em mais de 30 mil processos, muitos deles para libertar presos pobres que apodreciam nas cadeias sem julgamento. Seu feito mais emblem\u00e1tico foi a liberta\u00e7\u00e3o de Dad\u00e1, vi\u00fava do cangaceiro Corisco, atrav\u00e9s de um habeas corpus que desafiava a l\u00f3gica repressiva do Estado\u00a013<\/span>14<\/span>. Para ele, os tribunais n\u00e3o eram salas de m\u00e1rmore, mas trincheiras onde a justi\u00e7a precisava ser conquistada a cada palavra.<\/p>\n Sua coragem extrapolava as formalidades. Em uma cena ic\u00f4nica, acendeu uma vela no tribunal, declarando que “a Justi\u00e7a anda escondida”. Esse gesto, mais que teatral, era um libelo contra a opacidade de um sistema que favorecia os privilegiados.<\/p>\n Cosme compreendia que a justi\u00e7a social n\u00e3o se fazia apenas nos tribunais, mas tamb\u00e9m nas salas de aula. Em 1915, fundou a\u00a0Liga Baiana contra o Analfabetismo<\/strong>, que manteve escolas e distribuiu cartilhas por d\u00e9cadas, alfabetizando milhares na periferia de Salvador\u00a02<\/span>3<\/span>. Sua cartilha do ABC tornou-se s\u00edmbolo de emancipa\u00e7\u00e3o, como relembrou o jornalista Clarindo Silva, que recebeu uma delas das m\u00e3os do pr\u00f3prio Major\u00a09<\/span>. Para ele, cada letra ensinada era um passo para romper as correntes da ignor\u00e2ncia.<\/p>\n Eleito deputado estadual em 1914 e vereador por m\u00faltiplos mandatos, Cosme usou a pol\u00edtica para amplificar suas causas. Na Assembleia Legislativa da Bahia, tornou-se o parlamentar mais idoso do mundo aos 97 anos, mostrando que a resist\u00eancia n\u00e3o tem data de validade\u00a02<\/span>3<\/span>. Sua atua\u00e7\u00e3o contra a ditadura militar (1964-1985) e em defesa dos direitos trabalhistas durante a greve de 1919 revelam um homem que jamais se curvou ao autoritarismo\u00a06<\/span>14<\/span>.<\/p>\n Em 2021, a OAB-BA concedeu-lhe postumamente o t\u00edtulo de advogado, um reconhecimento tardio, mas simbolicamente potente, de que sua luta transcendeu as formalidades\u00a013<\/span>14<\/span>. Seu nome batiza escolas, pra\u00e7as e o plen\u00e1rio da C\u00e2mara de Salvador, enquanto document\u00e1rios como\u00a0Quitanda da Liberdade<\/em>\u00a0revisitam sua trajet\u00f3ria\u00a09<\/span>11<\/span>. A reedi\u00e7\u00e3o de\u00a0Lama & Sangue<\/em>\u00a0(1926), seu livro sobre o estado de s\u00edtio na Bahia, resgata suas cr\u00edticas \u00e0 repress\u00e3o e \u00e0 inconstitucionalidade \u2014 temas ainda urgentes\u00a06<\/span>.<\/p>\n Cosme de Farias n\u00e3o foi um her\u00f3i de est\u00e1tua, mas um homem que transformou limita\u00e7\u00f5es em alavancas para mudan\u00e7as. Seu sesquicenten\u00e1rio coincide com um Brasil que ainda clama por justi\u00e7a social, educa\u00e7\u00e3o p\u00fablica de qualidade e representatividade negra nos espa\u00e7os de poder. Sua vida nos ensina que a verdadeira advocacia n\u00e3o se mede por diplomas, mas pela capacidade de incendiar consci\u00eancias e iluminar caminhos.<\/p>\n Que seu exemplo inspire as novas gera\u00e7\u00f5es a carregar a tocha da justi\u00e7a popular \u2014 n\u00e3o como uma rel\u00edquia do passado, mas como um chamado para o futuro. Afinal, como escreveu o poeta Rodolfo Coelho Cavalcante:\u00a0“\u00d3 meu Deus, Cosme morreu\/ Outro igual jamais nasceu”<\/em>\u00a03<\/span>. Cabe a n\u00f3s provar que ele estava errado.<\/p>\n<\/div>\n Padre Carlos<\/p>\nA Advocacia como Arma de Emancipa\u00e7\u00e3o<\/strong><\/h3>\n
Educa\u00e7\u00e3o: A Revolu\u00e7\u00e3o das Letras<\/strong><\/h3>\n
Pol\u00edtica como Extens\u00e3o da Luta Social<\/strong><\/h3>\n
Um Legado que Resiste ao Tempo<\/strong><\/h3>\n
Conclus\u00e3o: A Chama que Nunca se Apaga<\/strong><\/h3>\n
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