{"id":16792,"date":"2025-03-27T17:19:05","date_gmt":"2025-03-27T20:19:05","guid":{"rendered":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/?p=16792"},"modified":"2025-03-27T17:25:48","modified_gmt":"2025-03-27T20:25:48","slug":"artigo-a-eternidade-do-amor-em-um-relogio-parado-quando-a-saudade-nao-cabe-no-tempo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/politicaeresenha.com.br\/artigo-a-eternidade-do-amor-em-um-relogio-parado-quando-a-saudade-nao-cabe-no-tempo\/","title":{"rendered":"ARTIGO – A Eternidade do Amor em um Rel\u00f3gio Parado: Quando a Saudade N\u00e3o Cabe no Tempo"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
H\u00e1 uma mentira confort\u00e1vel que repetimos como mantra coletivo:\u00a0\u201co tempo cura todas as feridas\u201d<\/em>. Emily Dickinson, em versos cortantes, desmonta essa ilus\u00e3o. \u201cSe o tempo fosse rem\u00e9dio, nenhum mal existiria\u201d, desafia a poeta, revelando que certas dores n\u00e3o se dissolvem no calend\u00e1rio, mas se entranham na alma, tornando-se parte indel\u00e9vel de quem somos. Lucas Dias, um nome que ecoa como um suspiro entre linhas escritas por um cora\u00e7\u00e3o materno, \u00e9 a prova viva \u2014 ou melhor, a prova\u00a0eterna<\/em>\u00a0\u2014 de que o amor n\u00e3o obedece \u00e0 cronologia.<\/p>\n Passaram-se 5 anos e 10 meses. Para o mundo, um per\u00edodo mensur\u00e1vel. Para uma m\u00e3e ou um pai que carregam a aus\u00eancia de um filho, \u00e9 como se o rel\u00f3gio tivesse parado no exato instante em que o futuro foi interrompido. A saudade, longe de amenizar, expande-se. Cresce em sil\u00eancio, invade os cantos mais \u00edntimos da mem\u00f3ria e se faz presente at\u00e9 no ar que falta quando um abra\u00e7o esperado nunca chega. N\u00e3o h\u00e1 algoritmo que calcule essa dimens\u00e3o. A dor da perda n\u00e3o \u00e9 um problema a ser resolvido; \u00e9 uma linguagem nova, um mapa de afeto que se recalibra a cada dia.<\/p>\n Lucas, cuja hist\u00f3ria \u00e9 tecida nas palavras de quem o ama, n\u00e3o \u00e9 um fantasma do passado. Ele habita o presente atrav\u00e9s de risadas lembradas, de aventuras transformadas em narrativas sagradas, de um amor que se recusa a ser reduzido \u00e0 nostalgia. Aqui, a maternidade ou paternidade enlutada revela seu paradoxo mais cruciante e belo:\u00a0\u00e9 poss\u00edvel seguir em frente carregando um peso que n\u00e3o se torna mais leve, mas que, de t\u00e3o imenso, ensina a caminhar com ele<\/strong>. A estrada acidentada, pavimentada por l\u00e1grimas, tamb\u00e9m \u00e9 iluminada por clar\u00f5es de gratid\u00e3o \u2014 pelos momentos roubados ao destino, pelo privil\u00e9gio de ter amado algu\u00e9m que deixou marcas t\u00e3o profundas.<\/p>\n Dickinson tinha raz\u00e3o: dor real n\u00e3o se debela, se transforma. Transforma-se em coragem para acordar todos os dias e duelar com o vazio. Em for\u00e7a para encontrar significado naquilo que, para outros, parece intrag\u00e1vel. E, principalmente, em resist\u00eancia para n\u00e3o permitir que a morte tenha a \u00faltima palavra. Quando um pai ou uma m\u00e3e diz \u201ctrago-te vivo em mim\u201d, eles est\u00e3o reescrevendo as regras da exist\u00eancia. A vida de Lucas n\u00e3o terminou; migrou para um territ\u00f3rio onde o tempo n\u00e3o dita as regras. Sua presen\u00e7a agora \u00e9 feita de vento, de cheiro, de can\u00e7\u00f5es que s\u00f3 o cora\u00e7\u00e3o reconhece.<\/p>\n \u00c9 f\u00e1cil romantizar a dor alheia, sugerir que h\u00e1 \u201cum prop\u00f3sito\u201d em todo sofrimento. Mas a verdade \u00e9 mais complexa. Aceitar que a saudade cresce com os anos n\u00e3o \u00e9 sobre resigna\u00e7\u00e3o; \u00e9 sobre honestidade. \u00c9 reconhecer que certas feridas sangram para sempre, mas que, mesmo assim, n\u00e3o nos impedem de dan\u00e7ar sob a chuva. O luto aqui n\u00e3o \u00e9 uma fase, mas um companheiro de jornada \u2014 \u00e1spero, inc\u00f4modo, mas tamb\u00e9m testemunha do amor que n\u00e3o se rende.<\/p>\n Para al\u00e9m das l\u00e1grimas, como bem lembrou minha amiga, h\u00e1 risadas. H\u00e1 a leveza de saber que, em algum lugar entre o infinito e o al\u00e9m, o amor constru\u00eddo n\u00e3o se perdeu. Ele pulsa nas hist\u00f3rias contadas, nas fotos revisitadas, nos sonhos que teimam em visitar as noites mais escuras. Seguir n\u00e3o \u00e9 esquecer; \u00e9 escolher carregar um tesouro que ningu\u00e9m v\u00ea, mas que sustenta cada respira\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Enquanto o mundo insiste em vender a ideia de que a cura est\u00e1 na passagem do tempo, hist\u00f3rias como a de Lucas Dias nos lembram que\u00a0algumas curas n\u00e3o existem \u2014 e n\u00e3o precisam existir<\/strong>. Porque o amor, quando verdadeiro, n\u00e3o se cura; se habita. E nessa morada, mesmo entre escombros, ainda se planta jardins.<\/p>\n Ao fim, talvez o maior ato de rebeldia contra a fugacidade da vida seja justamente este: fazer da saudade um altar, e do tempo, n\u00e3o um inimigo, mas um aliado que nos permite dizer, todos os dias, \u201ceu ainda te amo\u201d. Do infinito ao al\u00e9m.<\/p>\n<\/div>\n