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Quantas vezes precisamos revisitar certas verdades para finalmente compreend\u00ea-las em sua ess\u00eancia? A amizade \u00e9 uma delas \u2013 tema sobre o qual refletimos incansavelmente, mas que sempre parece guardar novas li\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Chegando aos sessenta e cinco anos, carrego comigo n\u00e3o apenas as marcas do tempo no rosto, mas principalmente as cicatrizes invis\u00edveis das descobertas sobre quem realmente permanece ao nosso lado. \u00c9 revoltante, embora necess\u00e1rio, constatar como muitos daqueles que chamamos “amigos” se revelam meros conhecidos quando o c\u00e9u se fecha em tempestade sobre nossas cabe\u00e7as.<\/p>\n
Nossa sociedade banaliza a amizade como banaliza tantos outros valores fundamentais! Distribu\u00edmos o sagrado t\u00edtulo de “amigo” com uma leviandade alarmante, como se fosse mercadoria barata, quando dever\u00edamos guard\u00e1-lo como o tesouro precioso que \u00e9.<\/p>\n
No sacerd\u00f3cio e na pol\u00edtica \u2013 duas trincheiras onde as m\u00e1scaras costumam cair rapidamente \u2013 aprendi uma verdade que deveria ser ensinada nas escolas: qualquer um pode sorrir conosco nas festas, mas pouqu\u00edssimos chorar\u00e3o genuinamente ao nosso lado nos vel\u00f3rios da vida.<\/p>\n
Isso n\u00e3o \u00e9 apenas uma constata\u00e7\u00e3o melanc\u00f3lica de um homem de cabelos brancos. \u00c9 um grito de alerta! Precisamos resgatar o valor da lealdade em tempos onde o individualismo corr\u00f3i nossas rela\u00e7\u00f5es mais b\u00e1sicas. Enquanto celebramos o avan\u00e7o tecnol\u00f3gico, nossas conex\u00f5es humanas se deterioram a olhos vistos.<\/p>\n
O verdadeiro amigo \u2013 aquele que n\u00e3o busca holofotes, n\u00e3o comercializa nossas fraquezas em conversas maldosas e n\u00e3o nos abandona quando o barco parece afundar \u2013 tornou-se raridade em um mundo obcecado por apar\u00eancias e vantagens imediatas.<\/p>\n
Que indigna\u00e7\u00e3o deveria nos causar perceber como aceitamos, com tanta naturalidade, relacionamentos superficiais! Como toleramos a trai\u00e7\u00e3o disfar\u00e7ada de “sinceridade”! Como normalizamos o abandono mascarado de “distanciamento saud\u00e1vel”!<\/p>\n
No entanto, h\u00e1 esperan\u00e7a. Ainda existem aqueles Sim\u00f5es de Cirene dispostos a carregar parte de nossa cruz sem pedir nada em troca. Homens e mulheres que entendem que amizade n\u00e3o \u00e9 conveni\u00eancia, mas compromisso. N\u00e3o \u00e9 performance, mas presen\u00e7a.<\/p>\n
O tempo \u2013 esse implac\u00e1vel juiz \u2013 vai separando o joio do trigo. \u00c0 medida que meus cabelos tornaram-se brancos “como um capucho de algod\u00e3o”, pude identificar com mais clareza quem realmente importa. S\u00e3o aqueles que n\u00e3o ofereceram apenas palavras de conforto, mas a\u00e7\u00f5es concretas. N\u00e3o perguntaram se precis\u00e1vamos de ajuda \u2013 simplesmente ajudaram.<\/p>\n
Precisamos urgentemente resgatar esta compreens\u00e3o profunda sobre amizade em nossas comunidades. Ensinar nossos jovens que compartilhar momentos de alegria \u00e9 f\u00e1cil, mas dividir a dor exige car\u00e1ter. Mostrar que confidenciar algo a um amigo n\u00e3o \u00e9 o mesmo que lan\u00e7ar informa\u00e7\u00f5es em um megafone social.<\/p>\n
E voc\u00ea, leitor? J\u00e1 fez seu invent\u00e1rio afetivo? J\u00e1 separou os verdadeiros amigos daqueles que apenas ocupam espa\u00e7o em sua lista de contatos? N\u00e3o podemos mudar o mundo inteiro, mas podemos transformar nossas pr\u00f3prias rela\u00e7\u00f5es, cultivando amizades baseadas em valores eternos como lealdade, sinceridade e compaix\u00e3o genu\u00edna.<\/p>\n
A verdadeira revolu\u00e7\u00e3o come\u00e7a nos pequenos c\u00edrculos. Na forma como escolhemos nossas amizades. Na maneira como honramos aqueles que n\u00e3o nos abandonam. Na coragem de sermos, n\u00f3s mesmos, o tipo de amigo que gostar\u00edamos de ter.<\/p>\n
O tempo passa, os cabelos embranquecem, mas o valor da amizade verdadeira permanece inabal\u00e1vel. Esta \u00e9 talvez a li\u00e7\u00e3o mais preciosa que podemos extrair de d\u00e9cadas de viv\u00eancia: no final, n\u00e3o importa quantos nos aplaudiram nos momentos de gl\u00f3ria, mas quem segurou nossa m\u00e3o quando o mundo desabou.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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