![\"\"](\"http:\/\/politicaeresenha.com.br\/wp-content\/uploads\/2025\/04\/Plain-Border-Journalism-Quote-Facebook-Post.png\")
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Minha primeira forma\u00e7\u00e3o n\u00e3o foi o jornalismo \u2013 foi a filosofia. Mas nunca vi essas duas \u00e1reas como mundos distantes. Ao contr\u00e1rio: sempre senti que uma completava a outra. A filosofia me ensinou a ouvir o sil\u00eancio por tr\u00e1s das palavras; o jornalismo, por sua vez, me ofereceu os meios para dar voz a esse sil\u00eancio. Transformei essa escuta em texto, em interpreta\u00e7\u00e3o, em narrativa.<\/p>\n
A minha verdadeira escola, no entanto, foi \u2013 e continua sendo \u2013 a pol\u00edtica. Foi ali, nesse terreno marcado por gestos calculados, palavras ensaiadas e sil\u00eancios eloquentes, que aprendi a ler o mundo. Foi na pol\u00edtica que me formei como profissional e como pensador da realidade. Aprendi que cada frase de um l\u00edder, cada omiss\u00e3o de uma institui\u00e7\u00e3o, carrega muito mais do que aparenta. Tudo \u00e9 sinal. Tudo comunica.<\/p>\n
Escrever, para mim, nunca foi apenas uma atividade liter\u00e1ria ou uma tarefa marcada na agenda. Escrever \u00e9 uma forma de continuar ensinando \u2013 s\u00f3 que em voz baixa. \u00c9 debater sem microfone, construir uma c\u00e1tedra p\u00fablica, onde a opini\u00e3o n\u00e3o serve ao ju\u00edzo apressado, mas \u00e0 an\u00e1lise, \u00e0 provoca\u00e7\u00e3o e, acima de tudo, \u00e0 mem\u00f3ria.<\/p>\n
Sempre fui atra\u00eddo pelo mergulho. Gosto do que n\u00e3o se v\u00ea \u00e0 primeira leitura. Me interessa o texto que escava, que interroga, que tenta entender n\u00e3o apenas o que aconteceu, mas por que aconteceu \u2013 e o que isso diz sobre n\u00f3s como sociedade. Foi com esse olhar que escrevi sobre o movimento estudantil, tentando enxergar na juventude n\u00e3o s\u00f3 uma for\u00e7a de mobiliza\u00e7\u00e3o, mas uma consci\u00eancia cr\u00edtica em constru\u00e7\u00e3o. E foi tamb\u00e9m com esse olhar que mergulhei na guerrilha do Araguaia, n\u00e3o para visitar uma p\u00e1gina esquecida da hist\u00f3ria, mas para iluminar o sil\u00eancio imposto a ela.<\/p>\n
Esses dois temas \u2013 a juventude em ebuli\u00e7\u00e3o e a guerrilha em resist\u00eancia \u2013 me inquietaram profundamente. T\u00e3o profundamente que um dia pensei: “isso ainda vai virar uma hist\u00f3ria”. E virou. Nasceu da\u00ed a vontade de escrever um romance, uma narrativa ficcional sobre um jovem que atravessa essas duas experi\u00eancias. Uma forma de fazer com que o pensamento filos\u00f3fico ganhasse carne, personagem, trama.<\/p>\n
O artigo de opini\u00e3o, nesse processo todo, tornou-se uma esp\u00e9cie de ensaio cont\u00ednuo. Ele treina meu olhar, afia meu pensamento e me convida, semana ap\u00f3s semana, a ouvir o pa\u00eds como quem l\u00ea um texto antigo: com aten\u00e7\u00e3o, respeito e suspeita. A filosofia pol\u00edtica, que sempre foi minha lente preferida, me ensinou que nada \u00e9 neutro. Nenhuma fala de um presidente, nenhum sil\u00eancio do Parlamento, nenhum gesto aparentemente banal de um vereador est\u00e1 isento de sentido. Tudo \u00e9 linguagem. Tudo \u00e9 contexto.<\/p>\n
\u00c9 por isso que sigo escrevendo. Porque ainda acredito que o texto pode ser trincheira \u2013 n\u00e3o da guerra, mas da lucidez. Num tempo marcado pela pressa, pelo ru\u00eddo e pela desinforma\u00e7\u00e3o, sigo apostando na escuta, no cuidado e na profundidade. A filosofia me deu o olhar. A pol\u00edtica, a sensibilidade. O artigo \u00e9 apenas o resultado inevit\u00e1vel de quem nunca quis \u2013 e nunca p\u00f4de \u2013 se calar.<\/p>\n
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