A recente ocorrência em Barueri, onde uma família foi brutalmente agredida por policiais militares, não é apenas mais um caso isolado de violência policial – é um sintoma de um problema estrutural profundamente arraigado em nossas instituições de segurança pública.
O episódio apresenta elementos perturbadoramente familiares: uma abordagem que escala rapidamente para violência desproporcional, invasão domiciliar sem mandado judicial, agressão a uma idosa e o uso de técnica expressamente proibida. O que começou como uma simples verificação de documentação irregular de uma motocicleta transformou-se em um espetáculo de horror familiar, com Lenilda Messias, uma senhora de 63 anos, sendo agredida dentro de sua própria casa.
Mais alarmante ainda é a resposta institucional ao incidente. Após um breve afastamento de 12 policiais, 11 já retornaram às ruas em apenas um mês. A mensagem implícita é clara: a violência policial, mesmo quando documentada e publicamente exposta, raramente resulta em consequências significativas para seus perpetradores.
A nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, afirmando que “não compactua com desvios de conduta”, soa como uma retórica vazia diante da rapidez com que os agentes foram reintegrados às suas funções. É um padrão conhecido: condenação pública seguida de ações administrativas brandas que, na prática, legitimam a continuidade dessas condutas abusivas.
O uso do “mata-leão”, técnica proibida desde 2020, é particularmente emblemático. Demonstra como diretrizes institucionais são frequentemente ignoradas no calor do momento, revelando um descompasso entre as políticas oficiais e a prática nas ruas. A proibição no papel não significa nada quando não há consequências reais para sua violação.
Este caso nos força a questionar: que tipo de segurança pública estamos construindo quando aqueles encarregados de proteger a população se tornam fonte de terror? Como podemos esperar que cidadãos confiem em uma instituição que parece mais interessada em proteger seus próprios membros do que em garantir a integridade física e dignidade das pessoas que deveria servir?
A permanência de apenas um policial afastado, enquanto os outros retornam às ruas, sugere uma investigação superficial e apressada. É difícil acreditar que em um incidente tão grave, envolvendo múltiplas violações de protocolos e direitos humanos, apenas um agente mereça escrutínio mais detalhado.
Enquanto a sociedade não exigir reformas profundas em nossas instituições policiais, incluindo melhor treinamento, supervisão mais rigorosa e punições efetivas para condutas abusivas, continuaremos a ver casos como o de Barueri se repetirem ad infinitum. A violência policial não é um desvio do sistema – é um produto dele.
A família Lima ainda aguarda justiça, assim como tantas outras vítimas de violência policial em nosso país. Enquanto isso, a mensagem que fica é perturbadora: em nossa sociedade, o distintivo ainda pode ser uma licença para a violência, e a impunidade continua sendo a regra, não a exceção.