A recente migração de prefeitos que antes apoiavam ACM Neto para o grupo do governador Jerônimo Rodrigues é um sintoma revelador do cenário político atual. Não se trata mais de uma disputa ideológica, mas da força da máquina administrativa como o verdadeiro motor do poder. Nesse ambiente, o PT, outrora símbolo de um projeto progressista, transformou-se em um condomínio partidário que abriga de tudo: da direita moderada à “esquerda” fragmentada.
A política brasileira perdeu suas referências ideológicas claras. O debate entre direita e esquerda cedeu lugar ao pragmatismo de quem governa com o objetivo principal de manter o poder. Nesse contexto, o PT não é exceção, mas sim o reflexo mais visível de uma tendência geral. O partido, fortalecido por décadas no controle da máquina governamental, perpetua um modelo de gestão em que o alinhamento político é ditado pelas vantagens oferecidas, e não por afinidades ideológicas.
O que estamos presenciando na Bahia com Jerônimo Rodrigues é emblemático. Prefeitos que outrora faziam campanha contra o PT agora se curvam à sua força administrativa. Não há uma mudança de ideais, mas uma busca por sobrevivência política em um cenário onde as máquinas estaduais e federais dominam o jogo. Jerônimo, com habilidade, usa os recursos disponíveis para conquistar até os mais ferrenhos opositores.
Essa realidade escancara um problema mais profundo: a falta de um projeto de país. Os governos, seja em nível estadual ou federal, operam de maneira semelhante, independentemente de quem está no comando. Jerônimo ou ACM Neto, União Brasil ou PT, pouco importa. O perfil administrativo será sempre marcado pela tecnocracia e pelo gerencialismo, enquanto os grandes temas progressistas – como justiça social, reforma tributária e desenvolvimento sustentável – são relegados ao segundo plano.
A transição de apoio político que ocorre na Bahia não é um caso isolado. É a regra de um sistema político que privilegia o poder pelo poder. Na prática, o governador Jerônimo não precisa de um discurso progressista; ele só precisa demonstrar capacidade de articulação e resultados imediatos para garantir alianças. Os prefeitos, por sua vez, sabem que a sobrevivência de suas administrações depende dessa parceria.
Esse quadro deixa claro que o Brasil vive uma crise de identidade política. As forças conservadoras, que historicamente tinham um lado, perderam suas bases ideológicas. A luta entre projetos políticos cedeu espaço a uma disputa por quem administra melhor a máquina pública. Enquanto isso, as demandas populares por mudanças estruturais permanecem insatisfeitas.
O resultado é um país em que o debate político se esvazia, transformando-se em um jogo de conveniência. Nesse tabuleiro, quem governa com a máquina tem a vantagem. Mas essa vantagem não significa progresso para o povo, apenas a perpetuação de um sistema que mantém tudo como está. Seja Jerônimo ou ACM, PT ou União Brasil, o futuro parece seguir o mesmo roteiro, com diferentes protagonistas e o mesmo enredo.
O desafio que resta é saber se algum dia a política brasileira retomará sua dimensão ideológica ou se estaremos fadados a assistir a um eterno ciclo de pragmatismo e manutenção do poder. Afinal, sem ideologia, o que resta é a gestão – e, como sabemos, gestão sem projeto é apenas sobrevivência.