Política e Resenha

ARTIGO – Entre a Fé e a Incerteza: O Caminho da Esperança

 

 

Ao longo dos séculos, a crença em Deus serviu de farol na escuridão existencial, oferecendo sentido e direção em meio às incertezas da vida. A esperança de uma vida eterna, que ultrapassa o limite da existência física, acalma o temor do fim e enche o coração de consolo. É nesse terreno fértil da fé que valores como amor, generosidade e compaixão germinam, orientando os passos de indivíduos que buscam viver de forma plena e significativa.

Contudo, a pergunta que ressoa no silêncio dos momentos finais é inquietante: e se, no exato instante da morte, percebêssemos que a promessa da eternidade era mera ilusão? Para muitos, a possibilidade de um nada absoluto é um abismo que amedronta. O teólogo suíço Hans Küng já refletiu sobre essa perspectiva, sugerindo que, mesmo diante da inexistência de uma vida pós-morte, a esperança em algo maior teria enriquecido nossa trajetória, infundindo nossas escolhas com profundidade e significado.

A morte, apesar de ser uma consequência natural, é encarada com temor por aqueles que possuem a aguda consciência de sua própria finitude. Essa percepção impulsiona questionamentos profundos sobre a origem, o propósito e o destino da existência humana. Diversas tradições religiosas oferecem a visão de que a separação da alma do corpo conduz a um novo plano ou a um ciclo de reencarnação, ideias que trazem conforto e alívio frente à inexorabilidade do fim.

Leonardo Boff, com sua analogia do casulo e da borboleta, convida-nos a enxergar a morte não como um ponto final, mas como uma transformação que abre caminho para uma nova forma de existência. Essa visão simboliza a renovação e a continuidade, que podem ser interpretadas tanto como a realização de uma vida eterna quanto como a celebração da própria capacidade de transcender.

Porém, é essencial reconhecer que o sentido da vida não se restringe à expectativa de um além. O amor, considerado por muitos como a expressão mais pura do divino, permanece a força capaz de conectar o ser humano ao transcendente, independentemente do destino final de sua existência. Viver em sintonia com o amor, a generosidade e a compaixão é, talvez, a maneira mais autêntica de honrar a fé e de encontrar significado na jornada terrena.

Em resumo, a crença em Deus e na vida eterna pode ser a chave para uma existência mais rica e repleta de propósito. Mesmo que o mistério da morte desafie nossos mais profundos anseios, é na prática do amor e na busca incessante pelo bem que encontramos a verdadeira eternidade. Afinal, seja como for o destino final, é o que vivemos e semeamos hoje que definirá a nossa humanidade.

(Padre Carlos)