Política e Resenha

ARTIGO – A Previdência em xeque e o jogo fino de Gleisi Hoffmann

(Padre Carlos)

No tabuleiro cada vez mais complexo da política brasileira, os movimentos não são feitos apenas no silêncio dos gabinetes ou no burburinho das redes, mas também nas conversas de bastidores, onde os telefonemas valem mais que discursos em plenário. A recente saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social é um exemplo clássico: um gesto que poderia ameaçar a base de sustentação do governo Lula, mas que acabou sendo habilmente contornado por uma das figuras mais hábeis da articulação política petista, a ministra Gleisi Hoffmann.

A substituição de Lupi por Wolney Queiroz não é apenas uma troca de nomes — é um gesto calculado para manter o PDT no arco de alianças do Planalto. Lupi sai enfraquecido, acuado pelas denúncias que rondam o INSS e que culminaram em um rombo de R$ 6,3 bilhões, mas seu sucessor carrega a missão de blindar a pasta e, ao mesmo tempo, manter o partido na órbita governista. Nesse sentido, Gleisi não apenas atuou como bombeira, mas como estrategista. Ligou, ouviu, acolheu e costurou. Fez política com “P” maiúsculo.

A manobra de manter o PDT à frente da Previdência evita o que seria um desgaste considerável para o governo. Lupi, apesar de não ter sido diretamente envolvido nas fraudes, já era um símbolo de desgaste, e sua permanência se tornava insustentável. Sua saída controlada — sem rompimento, sem gritos — foi um ato de proteção institucional e partidária. Gleisi assegurou a transição, evitando que o partido se sentisse alijado. Ao aceitar a indicação de Queiroz, permitiu que o PDT se mantivesse protagonista na gestão, ainda que com um novo rosto.

Mas não se deve ignorar o que está em jogo: o Ministério da Previdência é um dos cofres mais sensíveis do governo. É ali que se administram aposentadorias, pensões e benefícios sociais que atingem milhões de brasileiros — e, portanto, um território fértil para escândalos, mas também para ganhos políticos. O escândalo do INSS não será apagado com a troca de ministros. O novo comandante terá que mostrar serviço, e rápido, num cenário de desconfiança generalizada.

Além disso, paira no ar uma pergunta incômoda: se Lupi não tem envolvimento direto, por que saiu? E se tem, por que não foi investigado mais profundamente? A resposta está no campo onde a política e a conveniência se entrelaçam: era mais vantajoso para todos que ele saísse em paz do que fosse derrubado no vendaval.

Com essa operação, Lula também preserva um dos seus principais trunfos: a estabilidade da base aliada. O PDT, mesmo sem Lupi à frente da pasta, continua no jogo. Mas até quando? A lealdade partidária no Brasil tem validade curta, e o “fiador” da aliança agora está fora do balcão. Gleisi, por ora, segurou as pontas — mas o futuro da Previdência, e da base governista, seguirá dependente de novos acordos, novas articulações e, quem sabe, novos telefonemas ao cair da noite.