(Padre Carlos)
A visita do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, à prefeita Sheila Lemos, em Vitória da Conquista, na última quarta-feira (14), não foi apenas um gesto de cordialidade institucional. Foi, sobretudo, um marco político que pode inaugurar uma nova era de pactuação federativa na área da saúde, respeitando os princípios constitucionais do SUS e promovendo justiça no uso dos recursos públicos.
Zema veio como governador de Minas, mas encontrou-se com uma realidade que há muito tempo bate à porta da prefeitura de Conquista: a de uma cidade-polo que atende não apenas baianos, mas também milhares de mineiros, sobretudo do norte do estado vizinho, que veem nesta cidade a alternativa mais próxima e eficaz de atendimento hospitalar. Os dados não mentem: apenas em 2024, o Hospital Esaú Matos recebeu pacientes de 27 municípios mineiros — sem que haja qualquer pacto formal de ressarcimento. O que isso significa? Que Vitória da Conquista vem arcando sozinha, com recursos próprios e federais insuficientes, com a responsabilidade de cuidar de uma população que vai além das suas fronteiras administrativas.
É aqui que a visita de Zema ganha contornos históricos. Não apenas por ser a primeira vez que, como governador, ele visita uma prefeitura fora de Minas, mas porque assume — publicamente — que há uma dívida moral e financeira com Vitória da Conquista. Mais do que isso: reconhece que saúde não deve conhecer fronteiras políticas. Ao lado da prefeita Sheila e do vice Aloísio Alan, o governador sinalizou positivamente para a criação de um grupo de trabalho que possa transformar boa vontade em ação concreta.
O diálogo federativo que se pretende construir é mais do que necessário: é urgente. Em tempos de subfinanciamento crônico do SUS, municípios não podem continuar sendo penalizados por fazerem bem o seu dever de casa. A universalidade do sistema é louvável, mas não pode ser um peso desproporcional nas costas de gestões locais. A ausência de pactuação oficial transforma a solidariedade em ônus, e a ética do cuidado em abismo financeiro.
A fala de Zema sobre o Hospital Regional de Teófilo Otoni, que está sendo construído com 430 leitos, é um alento e ao mesmo tempo um alerta. Por um lado, reforça o compromisso do governo mineiro com a descentralização dos serviços. Por outro, lembra que até que esse hospital esteja plenamente funcionando, Conquista continuará sendo um porto seguro para os mineiros que precisam de atendimento. E isso não pode mais acontecer sem um termo claro de cooperação entre os entes federados.
A iniciativa do deputado Gustavo Santana, que articulou o encontro, também merece reconhecimento. Sua postura revela que, quando há compromisso com a população, a política deixa de ser jogo de vaidades para ser instrumento de construção coletiva.
O futuro pacto entre a Prefeitura de Vitória da Conquista e o Governo de Minas deverá conter cláusulas claras de fluxo, financiamento, metas e monitoramento. Mais que isso: deverá servir de modelo para outras cidades que vivem situação semelhante. Pactuar é respeitar o pacto federativo e, sobretudo, o cidadão que busca por saúde de qualidade, onde quer que esteja.
Vitória da Conquista tem, mais uma vez, a chance de liderar pelo exemplo. E Zema, ao reconhecer o papel da cidade, também demonstra que a política, quando bem feita, aproxima e cura.