Política e Resenha

A Juventude e o Fantasma do Passado*

Em um encontro casual, reencontrei um velho amigo, um companheiro de uma era marcada pela sombra da censura e pelo clamor da juventude por liberdade. Recordamos os anos de chumbo, a década de 1970, quando a luta pela redemocratização do Brasil se entrelaçava com a música rebelde e os gritos de liberdade dos jovens.

Eu, militante de um partido clandestino, fui testemunha da coragem dessa geração. Vi seus rostos iluminados por sonhos e convicções, seus punhos erguidos contra a tirania. As manifestações eram um oceano de cores, com bandeiras ao vento e cartazes que desafiavam a opressão. A música, a poesia e a arte eram nossas armas na trincheira da resistência.

Era um tempo de união e idealismo, um desejo ardente de forjar um futuro melhor. A juventude se unia por um ideal comum: a liberdade. Estudantes, artistas, trabalhadores e intelectuais, todos lutavam contra o regime autoritário.

A repressão era severa, com prisões arbitrárias, torturas e exílios. O custo da luta era elevado, mas a determinação era mais forte. A cada jovem silenciado, outros surgiam para continuar a batalha. A chama da redemocratização não se extinguiria.

Após anos de luta, a vitória foi alcançada. A ditadura militar caiu e o Brasil começou a caminhar rumo à democracia. A juventude que lutou por esse sonho viu-o tornar-se realidade.

Hoje, contudo, enfrentamos um novo desafio: a apatia das novas gerações. Os jovens atuais, imersos em seus universos digitais, parecem distantes da luta travada para garantir as liberdades que agora desfrutam.

A história da redemocratização parece perder-se entre algoritmos e selfies. A memória daquela luta esvai-se, substituída pela indiferença e pelo individualismo.

É essencial reavivar o espírito dessa juventude adormecida, conscientizá-los de que a liberdade é uma conquista contínua, que deve ser defendida diariamente. Devemos compartilhar as histórias dos heróis anônimos que enfrentaram a opressão, exibir as cicatrizes da repressão, para que a memória persista.

A luta pela redemocratização ensinou-nos o valor da liberdade, da democracia e da participação política. Esse legado deve ser passado adiante, para que as novas gerações jamais permitam o retorno do autoritarismo.

Nós, que vivenciamos e lutamos naquela época, temos a responsabilidade de manter viva a esperança. É nosso dever narrar as histórias, mostrar as marcas do passado e inspirar as novas gerações a defender a democracia com a mesma paixão e coragem daqueles que a conquistaram.

Somente assim asseguraremos que o futuro do Brasil seja escrito com as cores da liberdade, e não com as sombras da opressão.