A recente publicação do documento “Fiducia Supplicans” pelo Vaticano gerou divergências sobre seu real significado. Para alguns, trata-se de uma abertura histórica da Igreja em relação aos casais homossexuais. Para outros, as mudanças são superficiais e mantêm a doutrina tradicional.
Na verdade, a realidade é mais nuançada. O documento reitera a impossibilidade de uniões homossexuais receberem a bênção sacramental do matrimônio. Porém, abre espaço para que essas pessoas, em uniões estáveis, mesmo irregulares aos olhos da Igreja, possam receber uma bênção simples por parte de padres.
Trata-se de uma mudança incremental, mais simbólica que prática, mas nem por isso desimportante. Ao empregar a palavra “casal” e defender o acolhimento dessas pessoas pela comunidade católica, o Papa sinaliza uma maior abertura em relação à diversidade.
Francisco parece entender que a Igreja precisa dialogar com os valores contemporâneos de direitos humanos e inclusão, sob risco de se tornar cada vez mais irrelevante para os fiéis, especialmente os mais jovens. Ainda que preso pela doutrina tradicional em temas de moral sexual, o Papa busca ampliar, pouco a pouco, os espaços de participação dentro da comunidade católica.
Os avanços podem parecer tímidos para os padrões seculares, mas têm um significado especial vindos do líder da Igreja Católica. Representam pequenos passos em direção a uma instituição mais inclusiva e, quem sabe, o prenúncio de reformas mais profundas no futuro. O tempo dirá até onde Francisco conseguirá levar a milenar embarcação católica numa nova direção.