Política e Resenha

ARTIGO – O futuro da ultradireita e a fragilidade do bolsonarismo (Padre Carlos)

 

 

 

 

A história da política brasileira demonstra que correntes ideológicas de extrema-direita, como o integralismo de Plínio Salgado, sobrevivem às intempéries políticas, adaptando-se aos novos tempos e circunstâncias. Contudo, a realidade do bolsonarismo, mais centrado em torno de uma figura do que de uma doutrina, parece indicar um futuro de desintegração frente às pressões internas e externas.

O cenário atual evidencia o desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, após derrotas eleitorais, processos judiciais e a condenação à inelegibilidade, encontra-se politicamente isolado. Sua base de apoio, antes coesa, dá sinais de fragmentação, enquanto seus aliados, como peixes oportunistas, buscam salvar suas próprias carreiras políticas, ainda que à custa do “capitão”.

A recente empolgação com a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos é mais uma tentativa desesperada de oxigenar o bolsonarismo. A comitiva brasileira que prestigia o evento deposita esperança em uma possível interferência americana, seja através de pressão diplomática ou econômica, para aliviar as tensões entre o bolsonarismo e as instituições democráticas brasileiras, como o STF. Contudo, essa expectativa parece mais um devaneio do que uma estratégia realista.

Historicamente, alianças entre líderes populistas internacionais, como Trump, Bolsonaro e figuras como Javier Milei, são construções simbólicas e raramente se traduzem em mudanças estruturais. Para Trump, Bolsonaro é apenas mais uma peça no xadrez geopolítico. Para Bolsonaro, Trump representa a última fagulha de esperança em um momento de descrédito e irrelevância.

No entanto, a ultradireita, como fenômeno político mais amplo, sobreviverá ao bolsonarismo. Assim como o integralismo deixou seu legado de ideias, o bolsonarismo poderá contribuir com fragmentos ideológicos que serão absorvidos por novos líderes e movimentos. Mas, enquanto o bolsonarismo se agarra a fantasias de ressurreição política, a maré da realidade avança inexorável.

A sobrevivência da direita conservadora no Brasil dependerá de sua capacidade de se desvencilhar do personalismo bolsonarista e articular um projeto político consistente e ético. Nesse sentido, a maior ameaça ao bolsonarismo não são seus adversários, mas seus próprios aliados, que, no momento oportuno, não hesitarão em abandonar o barco.

O destino do ex-presidente ilustra um ditado popular: “Peixe que dorme, ou é inelegível, a maré leva.” E assim seguirá a política brasileira, onde lideranças vêm e vão, mas os ventos ideológicos continuam a soprar, adaptando-se às exigências de cada novo ciclo histórico.