Em 1945, os soviéticos marcharam triunfantes pela Berlim arruinada pela Segunda Guerra Mundial. Contudo, não foram apenas os nazistas que sofreram com a invasão; as mulheres alemãs também foram vítimas de uma brutalidade chocante. A triste realidade é que, ao longo da história, sociedades distintas toleraram e até mesmo justificaram o estupro como uma manifestação de poder e controle.
O episódio da violência sexual durante a ocupação soviética em Berlim ecoa na Guerra do Vietnã, onde soldados americanos perpetuaram atrocidades similares contra as vietnamitas. Esses eventos desoladores destacam a lamentável tendência de algumas sociedades em aceitar o estupro como algo intrínseco, seja como retaliação ou como expressão de superioridade.
Surpreendentemente, essa terrível realidade não é exclusiva do passado. No Brasil contemporâneo, enfrentamos uma alarmante normalização do estupro, como evidenciado pelas chocantes estatísticas reveladas por instituições como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Os dados são avassaladores. Mais de um quarto dos brasileiros acredita que a mulher que expõe seu corpo merece ser atacada, enquanto cerca de 30% concordam que uma mulher usando roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada. A desinformação e os preconceitos entrelaçados nessas crenças refletem uma mentalidade obscura que persiste em nossa sociedade.
A ideia absurda de que o comportamento da mulher pode prevenir estupros é não apenas falaciosa, mas também perigosa. A culpabilização da vítima perpetua um ciclo de violência e desrespeito, desconsiderando a importância do consentimento e da autonomia feminina.
É desolador constatar que, em pleno século XXI, quase 40% dos brasileiros concordam com a ultrapassada noção de que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”. Esse pensamento retrógrado perpetua a cultura do estupro, em que a responsabilidade é indevidamente atribuída à vítima, enquanto os agressores escapam da devida punição.
Como sociedade, é crucial enfrentarmos esse problema de frente, desafiando estereótipos ultrapassados e promovendo uma cultura de respeito e igualdade. Ignorar ou minimizar a gravidade desse fenômeno é compactuar com uma realidade que envergonha todos nós.
Que possamos, enquanto nação, rejeitar a complacência diante da violência contra a mulher e trabalhar incansavelmente para construir uma sociedade onde o respeito seja a norma e a igualdade seja uma realidade para todos.
(Padre Carlos)