
Em cada estrada não duplicada de nossa cidade, em cada cruzamento desprovido de viadutos, pulsa a silenciosa dor de uma comunidade que anseia por reconhecimento. O recente anúncio do governador Jerônimo Rodrigues sobre o investimento de R$ 216 milhões na duplicação do Anel de Contorno de Feira de Santana despertou em nós, conquistenses, um misto de alegria pela merecida conquista de nossos irmãos feirenses e um profundo suspiro de esperança de que, talvez, enfim, nossa hora também chegue.
Não se trata apenas de asfalto e concreto. Não. Cada viaduto ausente em nossas vias é um abraço não dado, uma proteção negada aos nossos. Cada passarela não construída representa vidas que seguem em risco diariamente, corações de mães que palpitam de apreensão quando seus filhos precisam atravessar avenidas movimentadas para chegar às escolas. As infraestruturas viárias são veias que pulsam vida em uma cidade; quando obstruídas ou insuficientes, todo o organismo urbano sofre, respira com dificuldade, vive sob a constante ameaça da paralisia.
Enquanto Feira de Santana celebra – e com toda justiça – a chegada de três viadutos, cinco passarelas para pedestres, ciclovia, pista de cooper e nova iluminação, nós em Vitória da Conquista contemplamos nossas cicatrizes urbanas: os pontos de acidentes que poderiam ser evitados, os congestionamentos que roubam preciosos momentos de convívio familiar, o estresse cotidiano que corrói a saúde mental de nossa gente.
A dor mais profunda, porém, não vem dos engarrafamentos ou das estradas esburacadas, mas do sentimento de esquecimento. Somos filhos e filhas do mesmo solo baiano. Por que alguns recebem o afago do poder público enquanto outros esperam com olhos marejados por um olhar de reconhecimento? Não queremos tirar o merecido desenvolvimento de outras regiões – aplaudimos cada avanço estadual como nosso também. Mas ansiamos por igualdade no amor demonstrado através de obras públicas.
Os conquistenses têm sonhos simples, mas essenciais: o direito de atravessar uma via sem temer pela própria vida; o privilégio de circular por uma cidade que foi planejada para acolher seu crescimento; a alegria de ver que seus impostos retornam em forma de qualidade de vida. São sonhos que cabem facilmente no orçamento estadual, se houver vontade política.
Na transparência do orçamento público, vemos refletidas as prioridades reais de nossos governantes. E quando nos debruçamos sobre esses números, sentimos o peso da disparidade, a frieza dos dados que traduzem o calor de nossas necessidades não atendidas. Não somos números menores, somos vidas iguais.
A luta por viadutos, passarelas e duplicações em Vitória da Conquista transcende a política partidária ou interesses eleitorais momentâneos. É um chamado por justiça distributiva, por reconhecimento da nossa importância como polo regional, por respeito aos nossos mortos em acidentes que poderiam ter sido evitados, por compaixão com nossas famílias enlutadas.
As estradas e acessos viários de uma cidade são como os braços abertos de uma mãe que acolhe seus filhos. Em Vitória da Conquista, sentimos que esses braços ainda estão parcialmente amarrados pela falta de investimentos adequados. Queremos nos sentir abraçados com a mesma intensidade, queremos sentir no asfalto de nossas vias o mesmo carinho dedicado a outros municípios.
O tempo passa, e com ele, oportunidades de transformação se perdem. Cada ano sem os investimentos necessários representa não apenas estatísticas econômicas negativas, mas sonhos adiados, vidas em risco, potenciais desperdiçados. O futuro de uma cidade não pode esperar indefinidamente na fila de prioridades governamentais.
Ao governador Jerônimo Rodrigues, estendemos não uma crítica ácida, mas um convite emocionado para que olhe além dos mapas técnicos e enxergue os corações que pulsam em Vitória da Conquista. Que sinta conosco a urgência das intervenções viárias, que compartilhe nossa angústia diante de cada novo acidente, que sonhe junto nosso sonho de uma cidade mais fluida, mais segura, mais acolhedora.
Este não é apenas um pleito da Câmara Municipal ou de seu presidente, é o clamor de uma cidade inteira que acorda todos os dias com a esperança renovada de que, finalmente, será vista e ouvida. É o eco de vozes que se multiplicam nas ruas, nas praças, nas casas simples e nos grandes comércios. É o sussurro de quem já não tem forças para gritar, mas que ainda acredita na justiça dos investimentos públicos.
Vitória da Conquista merece conquistar também sua fatia justa no bolo dos investimentos estaduais. Nossos cidadãos merecem sentir que seus impostos retornam em forma de cuidado e proteção. Nossa história de contribuição para o desenvolvimento da Bahia merece ser honrada com ações concretas.
Que nossas vozes ecoem além das fronteiras municipais e toquem o coração de quem tem o poder de transformar promessas em realidade. Porque cada viaduto construído, cada via duplicada, cada passarela instalada não representa apenas uma obra física, mas um ato de amor a uma comunidade que apenas deseja ser tratada com a mesma consideração dedicada a seus irmãos baianos.
Ivan Cordeiro é Presidente da Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista