Por Padre Carlos
A HORA DA INTEGRAÇÃO REGIONAL É AGORA
Por mais de duas décadas, o Sudoeste da Bahia tem aguardado o reconhecimento institucional que sua pujança econômica, sua força demográfica e sua interconexão funcional já estabeleceram na prática. A criação da Região Metropolitana do Sudoeste Baiano, tendo Vitória da Conquista como seu epicentro, não é uma questão de privilégio regional ou mera formalidade administrativa – é um imperativo histórico para o desenvolvimento equilibrado do interior baiano e uma dívida do Estado com uma população de quase 750 mil habitantes que, na prática, já vive uma realidade metropolitana.
NÚMEROS QUE FALAM POR SI
Os dados são contundentes e incontestáveis: Vitória da Conquista, com seus 370.879 habitantes, representa praticamente metade da população de todo o Território de Identidade Sudoeste Baiano. Mais impressionante ainda é sua dominância econômica – a cidade responde por 67,2% do PIB regional, gerando aproximadamente R$ 8,2 bilhões dos R$ 12,2 bilhões produzidos em toda a região.
Este não é um fenômeno recente ou transitório. É o resultado de décadas de consolidação de um polo regional que se tornou referência em comércio, serviços, educação superior e saúde, atraindo diariamente milhares de cidadãos dos municípios vizinhos. Com um PIB per capita de R$ 23.907,93 – significativamente superior à média regional de R$ 17.504,27 – Vitória da Conquista exemplifica o potencial econômico que pode ser amplificado com uma gestão metropolitana integrada.
UMA INTERDEPENDÊNCIA JÁ CONSOLIDADA
A interdependência entre Vitória da Conquista e os municípios vizinhos não é uma teoria econômica abstrata – é uma realidade cotidiana vivida por centenas de milhares de baianos. Diariamente, um fluxo contínuo de pessoas se desloca de cidades como Poções, Planalto, Anagé, Barra do Choça e Cândido Sales em direção ao polo regional.
Esta dependência funcional se manifesta:
- Na busca por atendimento médico especializado nos hospitais e clínicas conquistenses;
- No ingresso no ensino superior e técnico nas universidades federais, estaduais e instituições privadas estabelecidas na cidade;
- Na procura por empregos no dinâmico setor de comércio e serviços, que representa 78,2% do valor adicionado bruto regional;
- No acesso ao comércio diversificado e às opções de lazer ausentes nos municípios menores.
Os municípios do entorno não são meros satélites de Vitória da Conquista, mas parte integrante de um organismo regional que já opera como uma metrópole de fato – agora necessitando apenas do reconhecimento legal para otimizar seu funcionamento.
MAIS QUE UM RECONHECIMENTO, UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO
A formalização da Região Metropolitana não é uma questão de prestígio, mas uma estratégia pragmática de desenvolvimento que trará benefícios concretos:
- Planejamento integrado para problemas comuns: Mobilidade, saneamento, gestão de resíduos e segurança pública são desafios que ultrapassam fronteiras municipais e demandam soluções coordenadas.
- Otimização de recursos públicos: A gestão compartilhada permite economias de escala e evita a duplicação de investimentos, aspecto crucial em tempos de restrições orçamentárias.
- Ampliação da capacidade de captação de recursos: Regiões metropolitanas formalmente constituídas têm acesso preferencial a linhas de financiamento federais e internacionais.
- Promoção do desenvolvimento equilibrado: Ao contrário do que alguns temem, a gestão metropolitana pode reduzir as disparidades regionais, criando mecanismos de compensação e estímulo às vocações econômicas complementares.
- Fortalecimento da posição estratégica na Bahia: Uma região metropolitana com 750 mil habitantes terá maior peso político e econômico para reivindicar investimentos estruturantes, beneficiando todo o sudoeste baiano.
VOCAÇÃO HISTÓRICA E GEOGRÁFICA
A vocação metropolitana de Vitória da Conquista não é fruto do acaso, mas de sua privilegiada posição geográfica e de sua trajetória histórica. Localizada no entroncamento de rodovias federais estratégicas (BR-116 e BA-262/BR-415), a cidade consolidou-se naturalmente como hub logístico e centro comercial para um vasto território.
A produção regional – que abrange desde o café, banana e feijão na agricultura até os setores calçadista e têxtil na indústria – encontra em Vitória da Conquista seu centro natural de processamento, comercialização e distribuição. O valor de US$ 58,1 milhões em exportações regionais em 2023 reflete um potencial que só será plenamente aproveitado com políticas integradas de desenvolvimento econômico.
OS DESAFIOS DA URBANIZAÇÃO REQUEREM SOLUÇÕES METROPOLITANAS
Com uma taxa de urbanização de 64,8% – ainda inferior à média estadual de 71% – o Sudoeste Baiano encontra-se em pleno processo de transformação demográfica. Este cenário de urbanização crescente apresenta tanto oportunidades quanto riscos.
Se não for adequadamente planejada e gerida em escala metropolitana, esta urbanização pode resultar em:
- Expansão desordenada das periferias;
- Precarização habitacional;
- Sobrecarga dos sistemas de transporte;
- Degradação ambiental;
- Aprofundamento das desigualdades socioespaciais.
A criação da Região Metropolitana oferece o arcabouço institucional necessário para enfrentar estes desafios de forma coordenada e eficiente.
UM CHAMADO À AÇÃO
O momento exige decisão e coragem política. Conclamamos:
- Ao Governo do Estado da Bahia: Que apresente imediatamente o projeto de lei para criação da Região Metropolitana do Sudoeste Baiano à Assembleia Legislativa;
- Aos Deputados Estaduais: Que reconheçam a urgência e relevância desta matéria, aprovando-a com a celeridade que sua importância demanda;
- Aos Prefeitos e Vereadores dos municípios da região: Que superem visões paroquiais e partidárias, unindo-se em torno deste projeto de interesse comum;
- À sociedade civil organizada: Que se mobilize em apoio a esta iniciativa, pressionando as autoridades competentes e participando ativamente dos debates sobre o modelo de governança metropolitana.
O FUTURO BATE À NOSSA PORTA
A história econômica brasileira tem mostrado que as regiões que se antecipam na adoção de modelos de gestão inovadores colhem os frutos do desenvolvimento antes das demais. O interior da Bahia não pode mais ser tratado como coadjuvante no planejamento estadual.
O Sudoeste Baiano já demonstrou sua vitalidade econômica e sua capacidade de inovação. A criação da Região Metropolitana não é um ponto de chegada, mas um ponto de partida para um novo ciclo de desenvolvimento que beneficiará todos os municípios envolvidos.
A hora é agora. O futuro do Sudoeste Baiano não pode esperar.
Este manifesto é endossado por cidadãos, entidades e lideranças comprometidos com o desenvolvimento integrado e sustentável do Sudoeste da Bahia.