Política e Resenha

Cristãos e Católicos na Europa e nos Estados Unidos: Um Chamado Contra o Racismo e a Xenofobia

 

 

 

Em tempos recentes, especialmente com a ascensão de políticas migratórias mais restritivas nos Estados Unidos e a crescente onda de nacionalismo na Europa, torna-se imperativo que cristãos e católicos reafirmem seu compromisso com os valores fundamentais de sua fé, que repudiam o racismo e a xenofobia.

Em um mundo marcado por deslocamentos massivos e crescentes tensões sociais, nunca foi tão urgente lembrar que um cristão – e, sobretudo, um católico – não pode ser nem racista nem xenófobo. Essa postura não é apenas uma questão moral; é uma expressão da essência do cristianismo e de sua visão sobre a dignidade humana.

O Brasil, com sua miscigenação e diversidade cultural, é um exemplo vivo de como a identidade de um povo se constrói a partir da convivência entre diferentes origens e tradições. Somos descendentes de indígenas, africanos, europeus e de muitos outros povos que cruzaram oceanos em busca de uma vida melhor. Ao mesmo tempo, milhares de brasileiros deixaram sua terra natal para buscar oportunidades em outros cantos do mundo. Gostamos de ser bem recebidos e respeitados lá fora, e isso nos obriga a estender a mesma hospitalidade a quem aqui chega.

A Tradição Judaico-Cristã e o Estrangeiro

A Bíblia é rica em ensinamentos sobre a acolhida ao estrangeiro. No Êxodo, o povo de Israel recorda sua experiência como imigrante e escravo no Egito. Deus os liberta e, por isso, o texto sagrado é enfático: “Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito” (Ex 22, 20).

Esse mandamento é um eco constante na práxis de Jesus. Ele não apenas acolheu estrangeiros como também os exaltou em situações de fé e virtude. A mulher cananeia, que insistiu pela cura de sua filha, e o centurião romano, cuja fé surpreendeu o próprio Cristo, são exemplos de que a misericórdia divina transcende fronteiras geográficas, culturais ou religiosas.

Na teologia cristã, São Paulo deixa claro que em Cristo “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher” (Gál. 3, 28). Essa afirmação revela que a verdadeira fé cristã não conhece barreiras de raça, classe ou gênero – todos são igualmente filhos de Deus.

A Catolicidade da Igreja

A palavra “católico” significa universal. A Igreja Católica é chamada a ser uma casa para todos, sem distinção de nacionalidade, etnia ou condição social. Recusar essa universalidade é trair a própria essência da fé.

Por isso, é inconcebível que um cristão, e mais ainda um bispo, se alie ou apoie discursos e práticas que promovam racismo ou xenofobia. A fé exige posicionamento. O Papa Francisco, em diversas ocasiões, denunciou o ódio contra migrantes e destacou a importância de abrir as portas para aqueles que buscam uma vida digna. “Os migrantes não são números, são pessoas”, afirma ele com veemência, convidando-nos a ver no rosto do estrangeiro o próprio Cristo.

Quando a Fé se Choca com a Realidade

Infelizmente, vivemos tempos em que discursos xenófobos e racistas encontram eco em setores que deveriam ser os primeiros a condená-los. A defesa da dignidade humana não é opcional para o cristão; é um dever. Apoiar ou mesmo silenciar diante de atitudes discriminatórias é negar o Evangelho e sua mensagem de amor.

Uma Reflexão Necessária

Um Brasil que se orgulha de sua diversidade e de sua fé cristã não pode tolerar a discriminação contra estrangeiros ou qualquer outro grupo. A história nos ensina que a acolhida é uma ponte para o crescimento, não uma ameaça. Nossa responsabilidade, como cristãos e como cidadãos, é combater o racismo e a xenofobia, com palavras e ações, em todos os espaços.

Que nos lembremos sempre do chamado de Jesus para amar ao próximo como a nós mesmos, independentemente de onde ele venha ou como ele seja. Pois, no fim, o amor ao próximo é o que define o verdadeiro cristão.

Padre Carlos