Mergulhar no passado é sempre um exercício fascinante, especialmente quando falamos de locais que nos são tão caros e familiares. A Pituba dos anos 1930 era, à primeira vista, uma modesta vila de pescadores. Porém, os ventos da mudança já sopravam, e os sinais de sua futura transformação em um vibrante bairro estavam por toda parte.
Com a chegada do bonde no início do século XX, algumas regiões costeiras, como o Rio Vermelho, se tornaram balneários populares para a classe média em busca de refrescantes escapadas do calor urbano. No entanto, essa mesma demanda por novos ares estimulou a procura por áreas mais distantes, e a até então pacata Pituba tornou-se um destino cobiçado.
Visionários como Juventino Silva perceberam a oportunidade de ouro. Facilitando a compra de terrenos a prestação, ele criou as condições perfeitas para que a especulação imobiliária e o comércio pudessem florescer naquela faixa litorânea. E assim, uma humilde vila de pescadores começou a dar lugar a um balneário em ascensão.
Para transportar os veranistas ávidos por desfrutar das praias de areia alva e águas cristalinas, foi criada, em 1930, uma linha de ônibus “Marinete” (veículos híbridos com frente de caminhão e carroceria para passageiros) entre Amaralina e Pituba. Essas antigas marinetes enfrentavam pistas de barro, levando famílias inteiras em busca de sol, mar e diversão.
Um dos primeiros empreendimentos a despontar foi o “Bar Ponto Final”, inaugurado por Antonio Lamartine. Situado no término da linha Marinete, servia bebidas e petiscos, tornando-se ponto de encontro e animação, especialmente nos dias dedicados aos caixeiros-viajantes, quando música ao vivo embramava o ar.
Outras curiosidades arquitetônicas também marcaram a Pituba naquela época, como a casa em forma de navio construída pelo Dr. Alfredo Bureau na Avenida Otávio Mangabeira, de frente para o mar. Um símbolo peculiar da transição daquela região de veraneio para um bairro de fato.
À medida que avançamos pelas décadas de 1940 e 1950, o bairro foi se consolidando, atraindo novos empreendimentos o ponto final foi vendido e se transformou no Bar de Aurindo e, ao seu lado, a lendária Boate Pituba, templos da boemia local. E não podemos esquecer a inesquecível “Cabana do Pedro”, famosa por suas inigualáveis moquecas.
Hoje, embora algo encobertos pelo crescimento urbano, ainda existem vestígios desse passado pioneiro, como uma das laterais remanescentes do antigo “Bar Ponto Final” na Avenida Manoel Dias da Silva. Um lembrete tangível de que a Pituba moderna tem raízes profundas em uma época em que o progresso batia à sua porta.
A transformação da Pituba de vila de pescadores a pujante bairro é um testemunho vivo da força motriz do desenvolvimento e da ousadia dos empreendedores. Um lembrete de que até mesmo os lugares mais improváveis podem se reinventar e florescer com o tempo. É essa rica tapeçaria histórica que tece a identidade única deste quanto da nossa cidade.
Padre Carlos