Vitória da Conquista não é apenas a terceira maior cidade da Bahia: é um farol econômico e cultural no sertão, responsável por irradiar desenvolvimento para dezenas de municípios. No entanto, sua grandiosidade contrasta com uma realidade gritante: a região que gravita em torno dela vive uma crise de governança, fragmentada pela falta de um projeto comum. A criação da Região Metropolitana de Vitória da Conquista (RMVC) não é apenas uma formalidade burocrática — é um imperativo para garantir progresso equitativo, sustentabilidade e justiça social em um território que já funciona como uma unidade socioeconômica, mas carece de planejamento integrado.
1. Os Números que Justificam a Urgência
Com uma população entre 1,2 e 1,8 milhão de habitantes — dependendo dos critérios geográficos e econômicos adotados —, a área de influência direta de Vitória da Conquista supera a população de estados brasileiros como Roraima ou Amapá. Seus 36 a 42 municípios formam uma rede urbana complexa, que abriga desde polos industriais até zonas turísticas, passando por cidades-logística. O PIB regional, estimado em R$ 7,3 bilhões (5% do total baiano), revela uma capacidade produtiva relevante, mas ainda subexplorada devido à falta de sinergia entre os municípios.
Apesar desses números, a região opera como um “arquipélago”: cada cidade enfrenta isoladamente desafios como mobilidade urbana, saneamento básico e gestão de resíduos, enquanto Vitória da Conquista sofre pressões típicas de metrópoles, como inchaço populacional e déficit habitacional.
2. A Fragmentação que Custa Caro
Sem um Plano Diretor Metropolitano, os municípios da região repetem erros que poderiam ser evitados com cooperação. Exemplos abundam:
Mobilidade caótica: Enquanto Vitória da Conquista investe em vias urbanas, cidades vizinhas não possuem sistemas de transporte interligados, obrigando trabalhadores a gastarem horas em deslocamentos ineficientes.
Saneamento desigual: Apenas 62% da população da microrregião tem acesso à água tratada, segundo a Embasa. Enquanto isso, esgotos não tratados de municípios menores poluem rios que abastecem a região inteira.
Concorrência predatória: Municípios disputam investimentos industriais com incentivos fiscais descoordenados, enfraquecendo a capacidade de negociação regional.
Essa desarticulação tem um custo. Estudos do IPEA indicam que regiões metropolitanas organizadas reduzem em até 30% os gastos com infraestrutura, graças à escala e ao planejamento compartilhado.
3. O Estatuto da Metrópole: Mais que uma Lei, uma Oportunidade
A lei federal Estatuto da Metrópole (Lei nº 13.089/2015) não é um mero instrumento jurídico: é uma ferramenta para corrigir assimetrias. Ao instituir a RMVC, a região ganharia:
Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI): Definindo prioridades comuns, como corredores logísticos e áreas de preservação ambiental.
Fundos metropolitanos: Recursos combinados para obras de interesse regional, como a ampliação do Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo.
Governança compartilhada: Um conselho deliberativo com prefeitos, sociedade civil e especialistas para gerir conflitos e otimizar políticas públicas.
O modelo já funciona em outras regiões. A Grande Teresina (PI), por exemplo, reduziu desigualdades sociais em 15% após a criação de seu plano metropolitano, segundo o IBGE.
4. Vitória da Conquista: Um Polo que Puxa o Desenvolvimento, mas Não Sustenta Sozinho
Vitória da Conquista responde por 70% do PIB da microrregião, mas essa concentração é um risco. Sem integrar municípios vizinhos, a cidade enfrenta:
Pressão migratória descontrolada: O êxodo rural de cidades vizinhas sobrecarrega serviços públicos conquistenses.
Esgotamento de recursos: A demanda por água e energia na cidade contrasta com a ociosidade de recursos em municípios menores, que poderiam abrigar parques industriais ou agrícolas complementares.
A RMVC permitiria redistribuir funções urbanas. Por exemplo:
Brumado poderia se especializar em mineração e logística.
Itambé e Itapetinga fortaleceriam o agronegócio.
Poções desenvolveria o turismo ecológico.
5. Oportunidades Perdidas sem a Integração
Enquanto a RMVC não sai do papel, a região perde:
Investimentos em infraestrutura: Grandes projetos, como ferrovias ou usinas solares, exigem escala metropolitana para atrair capital.
Voice internacional: Regiões metropolitanas organizadas têm mais acesso a financiamentos do BID ou do Banco Mundial.
Inovação: Polos tecnológicos dependem de redes colaborativas entre cidades.
Conclusão: A Hora de Virar a Página
Criar a Região Metropolitana de Vitória da Conquista não é um ato de centralização, mas de democratização do desenvolvimento. Enquanto o Sudoeste baiano permanecer fragmentado, seu potencial seguirá subutilizado, condenando municípios menores ao ostracismo econômico e sobrecarregando Vitória da Conquista.
A Bahia já deu exemplos bem-sucedidos, como a Região Metropolitana de Salvador. Agora, é hora de o interior avançar. Como escreveu o geógrafo Milton Santos, “o território é o palco das contradições, mas também da cooperação”. A RMVC é o palco que falta para harmonizar o crescimento dessa região — antes que as contradições a consumam.