O Evangelho deste domingo nos coloca face a face com um acontecimento emblemático: o encontro de Jesus com Bartimeu, o cego que, à beira da estrada de Jericó, clama com fervor: “Filho de Davi, tende piedade de mim!” Com essas palavras, Bartimeu não pede moedas, mas misericórdia e compaixão. Ao reconhecer Jesus como Messias e se entregar ao Seu amor, ele desperta a comoção do Coração de Cristo e experimenta, em um só instante, a graça da cura e o poder transformador desse encontro pessoal com o Senhor.
Este Evangelho nos convida a um profundo exame de consciência sobre o verdadeiro sentido da fé e sobre o caminho que ela deve iluminar em nossa vida. Não se trata de uma fé passiva, conformada ou de conveniência. A fé de Bartimeu é aquela que confia inteiramente em Deus e, com humildade, clama pela misericórdia divina. Ele pede não apenas para enxergar, mas para viver a plenitude do amor de Cristo. Como bem reflete o Papa Francisco em sua última Encíclica, o Coração de Jesus se inclina com ternura e atenção a todos os que O buscam com o coração sincero, necessitados de consolo e de cura espiritual.
Bartimeu era cego, mas sua visão espiritual era profunda. Ele sabia que a piedade de Deus ultrapassa os milagres físicos e desce à alma, capaz de iluminar até as trevas mais profundas do sofrimento humano. Este encontro não foi um evento fortuito, mas um chamado à missão. Ao curar Bartimeu, Jesus revela que a fé, quando autêntica, é um compromisso que exige coragem, confiança e o desejo de seguir o caminho da verdade. Bartimeu poderia ter retornado à sua antiga vida, mas, ao contrário, opta por seguir Jesus com gratidão e fidelidade.
O ensinamento desta passagem é tão atual quanto foi há dois mil anos. Vivemos em uma época de grandes avanços científicos e conquistas materiais, mas ainda somos assolados pela “cegueira” da indiferença, do egoísmo e da superficialidade espiritual. Tal como Bartimeu, necessitamos de um encontro genuíno com Cristo, que nos cure das cegueiras que oprimem nossa sociedade. Em tempos modernos, quando o pragmatismo nos tenta a pedir pequenas “moedas” de solução para nossos problemas diários, esquecemos de clamar pela verdadeira misericórdia e cura espiritual, que só Jesus pode oferecer.
Que nossa oração se assemelhe à de Bartimeu: uma súplica sincera, que não se intimida diante das dificuldades, mas reconhece que Jesus é a verdadeira luz para nossos passos. Se como Igreja formos capazes de pedir “tudo” ao Senhor, Ele nos responderá com a Sua ternura infinita e nos conduzirá, assim como fez com Bartimeu, à missão de sermos portadores da Sua luz.
O caminho do cristão é um caminho de missão. Não podemos permanecer confortavelmente à margem, presos em nossos próprios temores e inseguranças. Maria Santíssima, que nos acompanha com seu amor materno, nos ensina a coragem e a determinação de seguir Jesus com o coração aberto, superando o comodismo que, por vezes, se instala em nossas comunidades.
Este Evangelho nos desafia a nos libertarmos das “moedas” que pesam em nossos bolsos e nos lançarmos à jornada de uma fé viva e compromissada. Que possamos, com a mesma confiança de Bartimeu, clamar ao Senhor em nossas necessidades e acolher Sua luz em todos os espaços da nossa existência. Cristo, que é a luz do mundo, continua a nos chamar para a estrada da vida, onde o verdadeiro encontro com Ele transforma nossos corações e nos incita a uma fé que se traduz em ação, serviço e amor incondicional.