A notícia recente da saída do professor Coriolano Morais, carinhosamente conhecido como professor Cori, das fileiras do Partido dos Trabalhadores em Vitória da Conquista, suscita uma análise aprofundada sobre os rumos que a legenda vem tomando na cidade. A deserção de um ex-vereador e ex-secretário de Educação em pleno ano eleitoral levanta questões pertinentes sobre a dinâmica interna do partido e sua relação com a esquerda local.
A nossa peculiar cultura política, permeada por “Meletes e Peduros”, parece aceitar de maneira complacente que a democracia interna no partido e a participação no governo petista não sigam princípios republicanos. A disparidade na concessão de benefícios e atenção entre vereadores e lideranças aliados e aqueles que não gozam da mesma proximidade com o poder revela um cenário onde a máxima “aos amigos tudo, aos inimigos a lei” é revivida por alguns políticos locais, ecoando as palavras do ex-ditador/presidente Getúlio Vargas.
A questão que se impõe é: existe um PT dividido em dois? Um que favorece determinados membros, atendendo suas demandas e permitindo sua participação no governo, enquanto outros são ignorados e relegados ao esquecimento? A saída do professor Cori, um dos vereadores mais competentes da história local, levanta dúvidas sobre a coesão interna do partido e seu compromisso com a pluralidade de vozes.
Ao refletir sobre essa desvinculação política significativa, é inevitável buscar paralelos na história política brasileira. Getúlio Vargas, em suas assertivas sobre o Diário Oficial como o local de arquivamento de amigos e aliados, oferece uma perspectiva intrigante. Essa dinâmica, onde procedimentos democráticos coexistem com elementos autoritários, é uma constante em nossas administrações, resistindo às oscilações da política local.
Vargas, em seu tempo, afirmava que a lei no Brasil tinha dono. Essa visão, ainda presente em nosso contexto contemporâneo, moldou a percepção de que a lei não é um instrumento universal para garantir direitos e deveres, mas sim uma ferramenta do governador e dos cargos comissionados para punir uns e agraciar outros.
A saída do professor Cori do PT não é apenas um episódio isolado, mas um sintoma de questões mais profundas que permeiam a política local. Resta-nos questionar se a democracia interna nos partidos e a participação política refletem verdadeiramente os ideais que professam. A resposta a essa indagação pode ser crucial não apenas para o futuro do PT em Vitória da Conquista, mas para o próprio processo de transformação da sociedade.
Padre Carlos