O cenário político baiano para as eleições municipais de 2024 desenha-se como um intrincado jogo de xadrez, onde cada movimento revela não apenas estratégias locais, mas também as complexas dinâmicas que permeiam a política estadual e nacional. Neste tabuleiro, Vitória da Conquista emerge como peça central, cristalizando as tensões e contradições que definem o atual momento político da Bahia.
A “Joia do Sertão”, como é conhecida Vitória da Conquista, representa a última grande esperança do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de conquistar uma das três maiores cidades do estado. No entanto, o que se observa é um embate político dentro da própria base governista, colocando em xeque as pretensões do Palácio de Ondina. A ausência notável do governador e do ministro Rui Costa nos eventos políticos da cidade sugere um cálculo cauteloso, possivelmente uma tentativa de não acirrar ainda mais os ânimos entre os aliados que agora se veem como adversários.
O cenário conquistense é singular: a prefeita Sheila Lemos (União Brasil) lidera as pesquisas com possibilidade de vitória no primeiro turno, beneficiando-se do apoio de ACM Neto e da máquina administrativa. Enquanto isso, PT e MDB, aliados no âmbito estadual, optaram por lançar candidaturas próprias, evidenciando as fissuras na base governista.
Esta configuração levanta questões intrigantes: em um eventual segundo turno, como se comportariam os eleitores? Veremos militantes petistas referindo-se à vereadora Lúcia Rocha (MDB) como “companheira”? O eleitorado mais conservador de Lúcia migraria para Waldenor Pereira (PT)? Estas perguntas ilustram as contradições e a fluidez das alianças políticas na Bahia contemporânea.
Waldenor Pereira enfrenta o desafio de resgatar o legado de duas décadas de administração petista na cidade. Apesar de não liderar as pesquisas, conta com o apoio das lideranças estaduais do partido e uma estrutura partidária consolidada. Por outro lado, Lúcia Rocha representa não apenas as aspirações locais do MDB, mas também as estratégias de sobrevivência política da família Vieira Lima, que enxerga em Conquista uma oportunidade de manter-se relevante no cenário político estadual.
Este microcosmo político em Vitória da Conquista reflete, em escala reduzida, as tensões e realinhamentos que ocorrem em todo o estado. A disputa entre aliados estaduais no âmbito municipal revela a complexidade das alianças políticas na Bahia, onde acordos estaduais nem sempre se traduzem em convergências locais.
Expandindo o olhar para os outros grandes colégios eleitorais, observamos cenários igualmente fascinantes. Em Feira de Santana, a persistência de Zé Neto (PT) em sua sexta tentativa de conquistar a prefeitura contrasta com a aparente solidez da candidatura de José Ronaldo (União Brasil). A entrada do Deputado Estadual Pablo Roberto na chapa de Ronaldo parece ter consolidado uma vantagem significativa, transformando o primeiro turno em uma prévia do segundo.
Já em Salvador, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) navega em águas aparentemente tranquilas rumo à reeleição, apesar da presença de candidatos de peso como o vice-governador Geraldo Júnior (MDB). A fragmentação da oposição na capital parece favorecer a continuidade da gestão atual.
As eleições municipais de 2024 na Bahia transcendem, portanto, o mero âmbito local. Elas se configuram como um termômetro das tendências políticas estaduais e nacionais, um campo de testes para alianças futuras e, sobretudo, um exercício crucial da democracia brasileira. O que observamos é um realinhamento das forças políticas, onde antigas alianças são testadas e novas configurações emergem.
A dinâmica em Vitória da Conquista, em particular, pode ser vista como um prenúncio das disputas que se desenharão nas eleições estaduais e federais de 2026. As estratégias adotadas pelos partidos e as reações do eleitorado fornecerão insights valiosos sobre as tendências políticas em formação no estado.
À medida que nos aproximamos do pleito, será fascinante observar como estas peças continuarão a se mover no complexo tabuleiro da política baiana. O desfecho desta disputa não apenas definirá os rumos das principais cidades baianas nos próximos anos, mas também poderá reconfigurar o equilíbrio de forças no estado, com potenciais repercussões no cenário político nacional.
Em suma, as eleições municipais de 2024 na Bahia se apresentam como um momento crucial de definição e redefinição política. O xadrez político baiano, com Vitória da Conquista como seu epicentro, promete lances surpreendentes e desfechos que poderão moldar o futuro político do estado por anos vindouros.