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A extrema-direita transnacional tem demonstrado um fascínio por Israel e Jerusalém que transcende a mera religiosidade. Para muitos desses grupos e líderes, o apoio a Israel é uma questão de identidade, de ideologia e de profecia. Mas o que está por trás dessa obsessão? Como explicar essa aliança entre cristãos fundamentalistas, judeus ortodoxos e nacionalistas radicais?
Para entender esse fenômeno, é preciso mergulhar na Teologia do Domínio, uma corrente teológica que surgiu nos Estados Unidos influenciando movimentos políticos e religiosos de extrema-direita. Essa teologia defende que os cristãos devem dominar todas as esferas da sociedade, impondo seus valores e sua fé, e que os líderes políticos são “ungidos” por Deus para cumprir seus propósitos. Além disso, essa teologia interpreta o Velho Testamento de forma literal e messiânica, atribuindo a Israel e Jerusalém um papel central no plano divino para o fim dos tempos.
Neste artigo, vamos desvendar os principais aspectos da Teologia do Domínio, mostrando como ela se relaciona com o culto da extrema-direita a Israel e Jerusalém, e quais são as consequências dessa ideologia para a paz e a justiça social.
A Teologia do Domínio: Uma Nova Teologia para a Extrema-Direita
A Teologia do Domínio é uma corrente teológica que se originou nos Estados Unidos na década de 1970, a partir de um movimento chamado Reconstrucionismo Cristão. Esse movimento defendia que os cristãos deveriam restaurar a lei mosaica como base para a sociedade, aplicando os mandamentos e as penalidades do Velho Testamento, como a pena de morte para os homossexuais, os adúlteros e os apóstatas. O líder desse movimento, Rousas John Rushdoony, afirmava que os cristãos deveriam estabelecer uma teocracia, ou seja, um governo regido por Deus e pela Bíblia.
A Teologia do Domínio se desenvolveu a partir dessa visão, mas se adaptou aos novos contextos e desafios da sociedade contemporânea. Em vez de defender a restauração da lei mosaica, essa teologia se concentra no domínio político e na imposição da fé. Essa nova teologia encontra suas raízes no Velho Testamento, especialmente na figura de Davi, o rei de Israel que unificou as tribos, expandiu as fronteiras e estabeleceu Jerusalém como a capital do seu reino.
Davi: O Modelo do “Pecador Ungido”
Davi é um personagem bíblico que exerce um grande fascínio sobre a extrema-direita. Ele é visto como um modelo de líder político e religioso, que foi escolhido e ungido por Deus para governar o seu povo. Davi é considerado um herói, um guerreiro, um poeta, um profeta e um rei. Ele é o autor dos Salmos, os hinos de louvor a Deus que expressam as emoções e as angústias da alma humana. Ele é o ancestral de Jesus, o Messias prometido que viria da linhagem de Davi.
Mas Davi também é um pecador. Ele cometeu adultério com Bate-Seba, a esposa de Urias, um dos seus soldados. Ele mandou matar Urias para encobrir o seu pecado. Ele foi um pai negligente, que não soube educar os seus filhos. Ele foi um rei autoritário, que abusou do seu poder e provocou uma rebelião. Ele foi um homem falho, que sofreu as consequências dos seus erros.
No entanto, Davi é perdoado por Deus. Ele se arrepende dos seus pecados e pede misericórdia. Ele reconhece a sua culpa e aceita a sua punição. Ele renova a sua aliança com Deus e recebe a sua graça. Ele continua sendo o “ungido” de Deus, o homem segundo o seu coração.
Para a extrema-direita, Davi é o exemplo perfeito do “pecador ungido”. Ele representa a ideia de que os líderes políticos são escolhidos por Deus para cumprir os seus propósitos, mesmo que eles cometam pecados e erros. Essa ideia é usada para justificar e defender líderes como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu, que são vistos como “ungidos” por Deus, apesar das suas falhas morais, éticas e legais. Esses líderes são considerados instrumentos de Deus para combater o mal, defender a fé e preparar o caminho para o retorno de Cristo.
A Espada Versus a Palavra: A Força Bruta como Símbolo de Poder
A Teologia do Domínio valoriza a força militar e a dominação como símbolos de poder e de autoridade. Essa teologia ignora a mensagem de Jesus, que pregou o amor, a paz e a justiça. Essa teologia também ignora o exemplo dos primeiros cristãos, que enfrentaram a perseguição e o martírio com coragem e fé. Essa teologia se inspira na figura de Davi, que foi um guerreiro e um conquistador, que usou a espada para derrotar os seus inimigos e expandir o seu reino.
Davi é conhecido como o “Senhor do Exército”, o comandante das forças armadas de Israel. Ele é o responsável por diversas vitórias militares, como a derrota do gigante Golias, a conquista de Jerusalém, a submissão dos filisteus, dos moabitas, dos amonitas, dos edomitas, dos amalequitas e de outros povos. Ele é o fundador de um império, que se estendeu desde o Egito até o Eufrates.
Mas Davi também foi um homem violento, que derramou muito sangue e causou muito sofrimento. Ele foi um assassino, que matou Urias para ficar com a sua esposa. Ele foi um genocida, que exterminou os amalequitas, sem poupar nem mulheres, nem crianças, nem animais. Ele foi um tirano, que impôs pesados tributos e trabalhos forçados aos seus súditos. Ele foi um homem cruel, que usou a força bruta para impor a sua vontade.
A extrema-direita admira a figura de Davi como um símbolo de poder e de autoridade. Ela defende o uso da violência e da guerra como meios legítimos para alcançar os seus objetivos. Ela apoia a repressão e a tortura como formas de combater os seus adversários. Ela despreza os direitos humanos e as leis internacionais como obstáculos à sua agenda. Ela se opõe ao diálogo e à diplomacia como sinais de fraqueza e de rendição. Ela se considera superior e dona da verdade, e não aceita a diversidade e a pluralidade como valores democráticos.
Israel e Jerusalém: Símbolos da Supremacia e do Expansionismo
A idolatria da extrema-direita se concentra em Davi e em Jerusalém como símbolos de conquista e de poder. Essa idolatria ignora o verdadeiro significado desses locais, que são sagrados para as três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Essa idolatria também ignora a história e a realidade desses locais, que são marcados por conflitos, injustiças e violações dos direitos humanos