Nos últimos anos, o termo “Centrão” tornou-se sinônimo de um bloco político que, embora sem uma ideologia firme, se posiciona estrategicamente para obter vantagens em governos de diferentes espectros. Inicialmente associado ao Congresso Nacional e ao governo federal, essa prática de negociação pragmática e de alianças oportunistas também tem se espalhado pelos estados, como é o caso da Bahia. O recente acordo para o retorno do Partido Progressista (PP) à base do governo de Jerônimo Rodrigues (PT) ilustra claramente essa expansão.
O “Centrão”, historicamente composto por partidos como PP, PL e outros, caracteriza-se por sua capacidade de se adaptar a diferentes governos, seja de esquerda, centro ou direita. Essa maleabilidade, embora muitas vezes criticada como uma falta de coerência ideológica, é na verdade a chave de sua longevidade e influência política. Na Bahia, não é diferente. A recente articulação política que trouxe o PP de volta ao núcleo do governo petista é um exemplo evidente de como essa estratégia não se limita ao cenário federal, mas também permeia as esferas estaduais.
O retorno do PP ao governo baiano, em troca do comando da Secretaria de Planejamento, remete ao modus operandi do Centrão: uma política de alianças baseada no pragmatismo, onde o apoio político é trocado por espaços de poder. Essa tática, que já é uma marca registrada em Brasília, revela-se agora uma ferramenta eficaz também nas negociações estaduais. Assim, o PT da Bahia, ao se aliar novamente com o PP, demonstra uma abertura para composições que, embora pragmáticas, colocam em cheque o discurso de coerência ideológica que sempre marcou a trajetória do partido.
Essa reconfiguração política no estado levanta questões importantes sobre a natureza do governo de Jerônimo Rodrigues. Até que ponto essa aliança com forças tradicionalmente de direita, como o PP, compromete a identidade do PT e suas propostas para a Bahia? O governo do PT, ao abraçar esses partidos, adota um modelo de governança que se distancia do ideal progressista, ampliando sua base de apoio em detrimento de sua própria ideologia.
Essa estratégia, embora possa fortalecer o governo em termos de apoio político e governabilidade, também expõe a gestão estadual a um jogo de poder onde interesses partidários podem se sobrepor às necessidades do povo baiano. É importante questionar até que ponto essa aproximação com o Centrão compromete a autonomia do governo e se essas concessões serão revertidas em benefícios reais para a população.
O cenário na Bahia é um microcosmo do que acontece em Brasília: um governo de esquerda que, para se manter, precisa abrir espaço para partidos de direita, aceitando a lógica do Centrão. Essa realidade desafia a coerência ideológica e coloca em pauta a eficiência dessa estratégia a longo prazo. O governo de Jerônimo Rodrigues, ao acolher o PP e possivelmente outras forças do Centrão, caminha em uma linha tênue entre a ampliação de sua base de apoio e a diluição de sua identidade política.
Em resumo, o centrão não se limita ao Planalto; ele também se instala nos estados, moldando governos e influenciando políticas. Na Bahia, essa realidade não é diferente, e o governo de Jerônimo Rodrigues, ao abraçar o PP, ilustra como a política de alianças pragmáticas, típica do Centrão, agora se estende aos rincões do Brasil. A questão que permanece é: até que ponto essa estratégia serve ao interesse público ou apenas ao fortalecimento de um bloco político que se adapta conforme as conveniências do momento?