As eleições municipais na Bahia revelaram uma dura realidade para o Partido dos Trabalhadores (PT). Embora o PT tenha sido, por muito tempo, a força hegemônica da esquerda baiana, os resultados das urnas mostram que essa dominância está fragilizada. Com apenas 49 prefeituras conquistadas, o partido viu sua influência encolher, enquanto partidos de centro-direita e oposição ampliaram seu controle sobre o estado.
Cidades como Amargosa, Esplanada, Jaguaquara e Pintadas estão entre os poucos municípios onde os petistas saíram vitoriosos. O partido, que sempre se apresentou como o grande defensor dos interesses populares, agora se depara com uma realidade em que sua hegemonia é questionada não apenas pelos eleitores, mas também pelos seus próprios concorrentes de centro-esquerda e centro-direita. A esperança do PT está depositada na disputa de Camaçari, onde Luiz Caetano, ex-secretário estadual de Jerônimo Rodrigues, ainda tem chances de vitória no segundo turno. No entanto, mesmo essa vitória não seria suficiente para apagar o quadro de derrotas que se desenhou para o partido.
Entre os maiores vencedores dessas eleições, o PSD se destacou com 116 prefeituras, liderando o cenário municipal baiano. Alagoinhas, Conceição do Coité e Eunápolis são alguns dos municípios relevantes conquistados, que consolidam o PSD como uma força decisiva para o futuro político da Bahia. O Avante, que obteve 60 prefeituras, elegeu prefeitos em cidades estratégicas como Guanambi e Brumado, ampliando seu alcance no sudoeste baiano. Esses resultados não apenas deixam o PT isolado, mas também o colocam em uma posição de dependência em futuras alianças.
A grande questão que emerge deste cenário é: como o PT pode continuar reivindicando espaços políticos estratégicos, como a vaga ao Senado de Coronel, quando partidos como o PSD, que agora detém uma ampla base de prefeitos, têm sua própria agenda de poder? Será que o ex-governador Rui Costa, um nome de peso dentro do PT, conseguirá manter o partido na linha de frente das disputas, ou o PSD exigirá sua própria fatia do poder? A camisa de força que a centro-direita está impondo ao PT não só restringe suas ambições, mas também enfraquece sua posição como líder natural da esquerda baiana.
Por outro lado, a oposição, longe de sair derrotada, alcançou importantes vitórias. O União Brasil, principal representante da oposição no estado, controla 39 prefeituras, incluindo Salvador com Bruno Reis, Vitória da Conquista com Sheila Lemos, e Feira de Santana com Zé Ronaldo. Essas três cidades, as maiores do estado, são fundamentais para qualquer projeto de poder na Bahia. Mesmo sendo minoria em número de prefeituras, o União Brasil tem sob seu comando o maior número de eleitores baianos, o que o posiciona estrategicamente para as eleições estaduais e federais que virão.
O Progressistas, por sua vez, consolidou-se como um dos maiores vencedores da oposição, com 42 prefeituras conquistadas. A eleição de Eriton Santos em Candeias, de Zé Cocá em Jequié, e de Júnior Marabá em Luís Eduardo Magalhães, fortalece o partido em regiões economicamente importantes. Zé Cocá, em particular, alcançou uma das maiores porcentagens de vitória no estado, demonstrando a força local do Progressistas e seu apelo junto ao eleitorado.
Com esse novo desenho político, o PT se vê cercado por forças que não apenas o desafiam, mas o colocam em uma posição defensiva. O partido que, por tanto tempo, ditou os rumos da esquerda na Bahia agora se encontra pressionado por partidos como o PSD e o Avante, que estão construindo suas próprias redes de poder. A capacidade do PT de articular alianças e de manter sua base será testada nos próximos anos, especialmente com o avanço de figuras como Bruno Reis, Zé Ronaldo e Sheila Lemos, que agora lideram algumas das principais cidades baianas.
A grande lição dessa eleição é que o poder político na Bahia está mais fragmentado do que nunca. O PT, que um dia foi o gigante da política baiana, hoje tem que lidar com uma realidade em que sua influência diminuiu, e a oposição se fortaleceu. Enquanto o PSD e o União Brasil se consolidam como forças decisivas, o PT precisa repensar sua estratégia se quiser manter relevância no cenário estadual.
O maior desafio para o Partido dos Trabalhadores será demonstrar que ainda tem capacidade de liderança dentro da esquerda e que pode, com base nas alianças, recuperar o terreno perdido. No entanto, as cartas na mesa mostram que o PSD, o Avante e o Progressistas têm suas próprias ambições, e não será fácil para o PT reconquistar o espaço que outrora foi seu.
A política baiana, agora, está em um momento de transição, e o PT, diante da sua maior derrota em décadas, precisará se reinventar para não ser engolido pelo avanço da oposição e dos partidos de centro-direita. O jogo, certamente, está longe de ser fácil para os petistas.